No terceiro dia de viagem, o navio atraca no primeiro porto: Funchal, capital da Ilha da Madeira, principal ilha do arquipélago do mesmo nome, localizada a 1.000 km de Lisboa e 608 km do Marrocos. No desembarque, cada passageiro mostra o seu cartão de identificação magnética, para controle do retorno.
O ônibus de turismo sobe ao pico mais alto, pela estrada asfaltada e sinuosa, ladeada por amplos paredões de pedra a subjugarem a montanha vulcânica. Na volta, passa pelos hotéis de luxo, já com lotação esgotada para o final de ano. Flores variadas de lindos matizes enfeitam as praças, avenidas e sacadas dos inúmeros edifícios.
O guia lamenta que o navio zarpe cedo e não possamos ver o espetáculo da cidade iluminada, pois parece um presépio, à noite. Muitos transatlânticos costumam parar no porto, nos festejos do Reveillon, para usufruírem a beleza dos fogos de artifício e da própria iluminação do casario como que incrustado na montanha escarpada.
Funchal é uma esplêndida surpresa, verdadeira cidade de primeiro mundo. Movimentada, alegre, com solo fértil e clima quente, abundante água potável e extremamente florida, ela é chamada de “pequena Lisboa”, pelas íngremes ruas de pedras e o ar imponente de seus prédios seculares.
O centro histórico, situado em volta da profunda baía natural - com museus, antigas adegas e o casario bem conservado - convive em harmonia com renomadas lojas de grifes internacionais, com dois shoppings centers, o colorido mercado de flores e a estranha praia de pedras escuras, de origem vulcânica. Além do turismo, a economia é alicerçada no vinho, na banana e nas plantas exóticas.
Antigamente, experimentados marinheiros aqui chegaram por acaso, açoitados pelas tempestades que os afastavam da costa africana. Embora seja desconhecida a data do seu descobrimento, a ilha já aparece em um mapa genovês de 1351. No final do século XIX, foi descoberta pelos europeus do norte para o desenvolvimento do turismo de inverno.
Como a partida é prevista para as dezesseis horas, apressamo-nos a voltar ao navio, onde somos informados de que haverá atraso de uma hora, devido à demora no retoque das pinturas externas, realizado em cada porto. No cais, um pequeno comércio aproveita o entusiasmo dos turistas e realiza as últimas vendas: postais, toalhas, lenços com monogramas, pequenas esculturas em madeira, aquarelas com paisagens locais.
Todos os bordados a mão produzidos na Ilha da Madeira, como é chamado o arquipélago, possuem o selo de autenticidade. Todos são caríssimos, também.
Decido acionar a internet e matar a saudade de casa, aproveitando o preço _ um euro e meio _ pois a bordo o pacote de uma hora custa a exorbitância de seis dólares, e esse tempo é pouco pra mim, quando resolvo me comunicar.
Depois, subo a estreita escada que conduz ao interior do navio, mostro o cartão de identificação, cujo código de barras logo acessa no computador a minha foto, tirada no check in, e todos os meus dados.Olho mais uma vez os íngremes penhascos, as montanhas verdejantes cortadas pelas estradas asfaltadas. Esforço-me para reter na memória este momento, como quem guarda lembranças preciosas em velha caixinha de madeira.
Crônica publicada em 2004, pertencente à série Impressões de Viagem.
Um comentário:
Marta!
As belezas, que deixas transparecer, nos relatos desta viagem, que mais parecem um sonho, no dá uma visão de um mundo maravilhoso fazendo esquecer o que há de mau, perverso...
Beijos
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