Na manhã seguinte, chegamos ao Rio de Janeiro. Como a estada é rápida e já conhecemos os principais pontos turísticos, preferimos ignorar as excursões e ir apenas a um shopping center, onde almoçamos e ficamos perambulando pelas lojas, sem muito interesse. Retornamos cedo ao navio, receosos do trânsito do final da tarde. Idéia acertada, aliás, pois uma das excursões, que não teve a mesma cautela e ficou presa no congestionamento, atrasando a partida em duas horas.
Enquanto aguardamos, ficamos no convés superior, observando o movimento em outro navio. Os marujos preparam uma festa havaiana, arrumam as mesas, com profusão de frutas tropicais, vestem as cadeiras. Quando a decoração está pronta, todos se retiram. Inesperadamente, um réchaud sobre a mesa principal pega fogo e logo esse se alastra, sem que ninguém veja. Os passageiros do nosso navio ficam aflitos, mas não há o que fazer, pela distância em que estamos e pelo fato de não haver ninguém à vista . Quando o primeiro marinheiro percebe, ele grita e logo vários acodem e conseguem debelar o fogo. Mas a decoração está perdida, a toalha queimada, as frutas chamuscadas. Eles jogam tudo no lixo, começam a escovar o chão, em alguns minutos refazem a arrumação, com muitas exclamações, conversa e agitação.
O comandante avisa que o navio está pronto para partir. Para compensar os passageiros pelo transtorno da espera, promete uma compensação: entrar na praia de Copacabana. Assim, o enorme transatlântico contorna o Pão de Açúcar, passando bem próximo, numa visão emocionante. Majestoso, coloca-se em frente à praia, a certa distância. É inesquecível o espetáculo das luzes da cidade sendo acesas, em pontos esparsos, no cair da noite.
Ao perceberem a proximidade do navio, os automóveis em terra começam a estacionar, como em Lisboa, na despedida. O navio cumprimenta, com seus repetidos apitos nostálgicos, e os carros piscam os faróis, em resposta. Lentamente, o navio começa a se afastar e as imagens vão diminuindo de tamanho e desaparecendo. Mudos de emoção, avançamos na escuridão, iluminados pela beleza indescritível que nos foi permitido partilhar.
Na última noite a bordo deste cruzeiro que iniciou em Lisboa, atravessou o Atlântico e terminará em Santos, a apresentação teatral é de responsabilidade dos passageiros, estimulados a apresentar o número que desejarem. Curiosos, dirigimo-nos ao teatro, à hora costumeira. Apenas os ingleses apresentam seus números, alguns cantando, outros dançando, uma senhora em cadeira de rodas contando piadas, todos excelentes, fazendo-nos imaginar se serão profissionais, tal a sua desenvoltura. Pena que nenhum brasileiro ou português se achou com coragem ou arte.
Depois, caminhamos pelos diversos decks, conversando com um e outro, trocando e-mails, recebendo uma foto de presente do simpático casal de Guarujá, Martha e Laerte. Desejo reter na memória cada detalhe. Afinal, este foi o nosso lar por dezessete agradáveis dias.
Muitos casais festejaram lua-de-mel e bodas diversas – vinte cinco, cinqüenta e até sessenta anos de casamento _ durante este cruzeiro, como ficamos sabendo pelo jornal diário. Para datas especiais, era sugerido o Pacote de Celebração em Grande Estilo, que incluía champagne, flores, café da manhã no quarto, bolo comemorativo e foto com o sorridente comandante.
No boletim colocado no camarote, à noite, o comandante informa diversos dados sobre os quais eu tinha curiosidade. Na travessia, foram consumidos 9.460kg de frango, 7.920kg de carne bovina, 2.640kg de cordeiro, 6.490kg de frutos do mar, 61.600 dúzias de ovos, 14.102 litros de cerveja, 3.823 garrafas de vinho, entre outros itens.
Devido ao atraso na partida do Rio de Janeiro, o navio necessita tomar velocidade, para recuperar o tempo perdido e chegar à hora programada em Santos. Acordo, no meio da noite, pela primeira vez sentindo o balanço mais acentuado e ouço um barulho diferente, que depois saberei serem as ondas batendo no casco, devido à velocidade imprimida.
Na chegada a Santos, somos recepcionados com uma bateria de foguetes. Os passageiros descem devagar a escada do navio, como que absorvendo a idéia de término do cruzeiro marítimo. Depois, todos nos apressamos para pegar a bagagem e caminhamos ao encontro dos filhos, amigos ou familiares que nos esperam. Voltamos ao cotidiano e ele é muito prazeroso.
Um comentário:
Marta!
Que pena!Ainda queria viajar mais um pouco!Mas chegar em casa também é bom.
Pude imaginar as emoções sentidas, as saudades veladas.
Fizeste ver que não basta viajar, é preciso olhar e ver...
Felicidades! Espero que, em breve, tenhamos mais passeios virtuais contigo.
Beijos
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