A jovem se queixava do marido preguiçoso, sem ambição, mulherengo. A amiga ouviu, ouviu; de repente lançou a pergunta: _ E como ele era, quando o conheceste?
Prontamente, a primeira respondeu: _ Era assim mesmo, mas pensei que ia mudar, com o tempo.
_ Ah, minha querida, não dá pra comprar um primeiro andar e querer transformar em cobertura.
Essa idéia de modificar o homem, logo que assuma a condição de marido, domina o imaginário feminino. Grande parte das mulheres acredita que, com jeitinho, conseguirá moldá-lo ao gosto, transmutando o tigre incontrolável em inofensivo e maleável gatinho.
Além do fato óbvio de que esta conquista não teria o menor sabor, pois seria muito insossa a convivência com a própria sombra, na vida real tais transformações não costumam acontecer.
Relacionamentos precisam de tempo para amadurecer e sedimentar. Hoje, muitos casais optam por morar um período juntos, antes de assumirem o casamento. Mesmo que não seja essa a situação, é interessante que desfrutem de muitas experiências em comum, onde cada um terá oportunidade de observar o comportamento do outro.
Quando, no Brasil, namorados não costumavam viajar sozinhos, na Holanda já era costume, antes do casamento, os noivos fazerem juntos uma viagem de barco, para melhor se conhecerem. O casamento sendo levado muito a sério, os holandeses com isso pensavam evitar o casa-descasa.
Numa viagem, as pessoas terminam por se mostrar, pois se irritam com o aeroporto em reformas, o atraso do vôo, a mala perdida e o fato dela não ter tido a idéia de colocar roupas de ambos em cada mala, para evitar a situação de não ter uma cueca para trocar. Além do peso da mala feminina, que isso nem se fala.
Nessas circunstâncias, alguns conseguem conservar o bom-humor, outros gritam palavrões, algumas se emburram, tem gente que bate a porta e só volta na manhã seguinte. O parceiro e a parceira inteligentes percebem em que enrosco estão se metendo, quando não são otimistas em excesso e resolvem acreditar que tudo mudará, após os papéis assinados.
Também é comum a descoberta, após certo tempo, das diferentes expectativas sobre o casamento. Enquanto ela deseja uma agitada vida social, ele programa noites tranqüilas em frente à TV, com pescarias com os amigos nos finais de semana. Ele até era chegado a esse tipo de programa, quando solteiro, mas ela “imaginou” que depois seria diferente.
Antes de iniciar qualquer empreendimento, em geral as pessoas se dão um tempo para estudar os prós e os contra, a viabilidade. A vida a dois é talvez o maior empreendimento em que alguém pode se aventurar, pois seu sucesso ou fracasso terá conseqüências não só na vida pessoal, também na familiar e na profissional. Pessoas felizes e ajustadas no casamento enfrentam com mais facilidade os revezes da vida.
O primeiro andar tem vantagens, como subir só um lance de escadas e, junto à janela, quase tocar as copas das árvores. A cobertura tem churrasqueira, piscina e um jardim. Ambos têm vantagens e desvantagens. Não há varinha de condão que transforme um no outro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário