26 de nov. de 2006

O que você vai ser, quando crescer?

O menino já não agüenta ouvir a mesma pergunta. Cada vez que os adultos não sabem o que conversar com ele, perguntam sobre sua opção para o vestibular. Ainda não chegou ao final do secundário, tem os hormônios à flor da pele, preferia se preocupar com o fato de sua escassa popularidade entre os colegas e, principalmente, com a falta de jeito com as meninas. Mas desde criança é perseguido pela pergunta: O que você vai ser, quando crescer?

A maioria das pessoas possui diversos talentos, o problema é detectá-los e saber o que fazer com eles, quando se tem quinze ou vinte anos. Essa indefinição causa muita angústia, conforme o vestibular se aproxima. Acrescente-se a ela a ansiedade dos pais, mais as notícias constantes sobre a escassez de emprego e temos um ser ainda imaturo, mergulhado num caldeirão de fortes e perigosas emoções.

O ideal seria que lhe fosse proporcionado o conhecimento sobre diversas profissões, atividades e trabalhos. As escolas também deveriam ocasionar oportunidades de contato com profissionais de diferentes áreas, para que os alunos pudessem descobrir com quais melhor se identificam.

Quando as escolas não cumprem o papel de orientadoras, pais interessados tomam a si a iniciativa, na medida do possível. SEBRAE, SENAC, SENAR e SENAI podem ser excelentes auxiliares, por proporcionarem cursos em várias áreas, com profissionais atualizados.

Contudo, não é só no momento do vestibular que o jovem sofre pressões da família e da sociedade. Feitas as devidas escolhas, é comum crescerem as expectativas em torno da sua pessoa. São médicos e dentistas falando na possibilidade de uma clínica, quando a filha completar o curso. Logo após a formatura, lá está o consultório todo montado. Assim ocorre também em outras áreas, quando os pais têm condições financeiras para bancar os próprios sonhos. São advogados, marceneiros, fazendeiros, lojistas, serralheiros, todos com um só plano: expansão e continuidade do negócio, quando o filho ou a filha puder assumir.

Na maioria das vezes, esses pais bem-intencionados desejam poupar aos seus rebentos as dificuldades por que passaram, no início da vida profissional. Tais esforços, no entanto, têm efeito contrário. Assim como as expectativas exageradas, as demasiadas facilidades costumam estreitar os horizontes.

Realizar-se na profissão escolhida é muito importante, a escolha acertada resulta em realização pessoal e na conseqüente felicidade. Mas os jovens devem ser conscientizados de que nenhuma atividade precisa ser a sua escolha para toda a vida, novas profissões surgem a cada dia, enquanto outras perdem a razão de ser.

A maioria das pessoas, quando viaja, leva uma malinha de mão, na qual coloca os bens mais preciosos, como documentos importantes, pertences pessoais. Por essa razão, ninguém gosta de se separar da tal malinha, nem é costume aceitar o oferecimento de outrem para carregá-la. Sendo o seu conteúdo importante, quem sabe essencial para o bom andamento da viagem, cada um prefere carregar a sua, por pesada que seja.

Da mesma forma, ninguém se oferece para levar as preciosidades do companheiro de viagem na sua bagagem. Seria muita temeridade, até inconveniência, carregar, por exemplo, a bolsinha com as jóias que a amiga pensa usar na festa em outra cidade. Coisas importantes, cada um carregue as suas e se responsabilize por elas, naturalmente.

Por que seria diferente com os nossos sonhos e projetos para o futuro? Por que outras pessoas _ pais, mães, avós, professores – se achariam à vontade para nos sobrecarregar com o peso dos seus sonhos não realizados? Por que deveríamos nos sentir culpados pela recusa em corresponder aos seus anseios?

Por isso, talvez, em primeiro lugar, a escola e a família devessem se preocupar em formar cidadãos versáteis, capazes de se adaptarem às mudanças, receptivos para as novas tendências do mercado. Livres para perseguirem o seu sonho, desobrigados de corresponderem às expectativas paternas ou maternas, capazes de fazerem as suas escolhas, seguros de si o suficiente para voltarem atrás, se necessário. Com criatividade e força para recomeçar quantas vezes for preciso, sem se sentirem diminuídos ou aterrorizados pelo medo de errar.

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