25 de mar. de 2007

Desculpas

“Não sei por que engordo”, queixou-se a adolescente, desgostosa com as gordurinhas saltando pra fora do jeans. “Passei um pouquinho do peso”, condescendeu consigo mesma a mulher, alisando os quadris onde o vestido ficou enrugado. “O professor estava de mau humor, por isso a nota foi baixa”, justificou o estudante. “Ele tem muito azar, nunca consegue um emprego à altura”, explicou a esposa sobre o marido desempregado. ”Ele não é mau, só estava nervoso”, outra tentou justificar, na manhã seguinte, ao vizinho que acorreu, para impedir que o companheiro a enchesse de pancada.

Desculpas funcionam como amortecedores. Primeiro douramos a pílula, depois a recheamos com justificativas, para que se torne convincente, inicialmente para os outros, logo para nós mesmos. Passamos mais tempo inventando desculpas do que tentando solucionar os problemas.

Infelizmente, desculpas não resolvem. O vestido não cai melhor, as gordurinhas não pulam de volta pra dentro do jeans, as notas não melhoram, empregos promissores não surgem de repente, homens grosseiros não se modificam – nada acontece ou muda, enquanto as pessoas permanecem mais interessadas em arranjar desculpas do que em resolver os seus problemas.

A culpa é das desculpas e dos “se” com que nos confortamos, como se nos déssemos batidinhas nas costas, para apaziguar o mal-estar.

Se tivesse condições financeiras, faria cursos de especialização, viajaria, daria festas para os amigos. Se não fosse a idade, compraria um computador. “Se” isso ou aquilo, falamos, sempre que nos vemos acuados, chamados a tomar atitudes.

As desculpas e os “se” parecem muito cômodos, pois nos livram da obrigação de fazer qualquer coisa. Contudo, enquanto arrumamos desculpas para agir ou deixar de agir de determinada maneira, estamos dizendo “sim” ao que nos incomoda, ajudando a perpetuar o mal-estar.

Mas os “se” também podem ser motivação para mudanças, o que não costuma acontecer com as desculpas, que só nos puxam pra trás. É que, sempre que alguém começa a se desculpar, a gente sabe que nada vai mudar: o sujeito vai se preocupar mais em procurar justificativas do que em tentar alterar o comportamento.

Ao contrário, algumas vezes, ocorre um clique de que as coisas poderiam ser diferentes, “se” mudássemos a maneira de agir ou de reagir.

Se a mulher se olhar no espelho e reconhecer: “Estou gorda”; se a jovem suspender o gesto de retirar o último bombom da caixa, por admitir para si mesma: “Não vou emagrecer, enquanto não parar com tanto chocolate”; se alguém compreender: “Ele é malandro demais, assim nunca vai arrumar um emprego”; se as mães pararem de passar a mão por cima; se os pais se dispuserem a ouvir; se cada um resolver dar um basta em todas as situações incômodas ou estressantes do dia-a-dia – se e quando isso ocorrer, nesse momento começará a conscientização salvadora. A única capaz de virar a mesa e produzir mudanças, em qualquer caso. Se realmente desejarmos.

4 comentários:

Blog do Simeão disse...

Marta
Gostei. Dizem que um dos sintomas de INSANIDADE é "fazer sempre da mesma maneira e esperar que as coisas mudem".
Tomar iniciativa e mudar requer iniciativa... e coragem de mudar, de enfrentar o desconhecido.
Abs - Simeão

Anônimo disse...

Marta!

Nosso mundo está infestado de desculpas!Não as suporto, há não ser quando tem fundamento, e percebemos logo...
Para crescermos é necessário mudar e com, certeza, ao alcançarmos este patamar, seremos mais felizes!
Beijos da Ruthe

Anônimo disse...

Grande verdade, Marta, realmente a vida é cheia de ilusões, as pessoas não são capazes de realmente querer o que dizem.
Só resolvemos os problemas quando realmente queremos resolvê-los. Sem, a vontade própria, nada feito. Mas a humanidade gosta de se enganar. É bom lembrarmos a verdade para não cairmos nos mesmos erros. Beijos, Suely

Anônimo disse...

Muito legal Marta!
Essa é a verdadeira realidade...hj em dia as pessoas sempre têm desculpas para não fazer as coisas ou até mesmo expressarem seus próprios sentimentos!

Grande abraço

Camila Gonçalves dos Santos