A moça de Porto Alegre falou que possui duas semanas no resort, no sistema de tempo compartilhado, mas pretende comprar um apartamento, para poder ir várias vezes ao ano a Punta del Este. Precisa fugir do terror da violência, do medo de sair à rua, de entrar no carro, de abrir o portão da garagem; precisa se reabastecer de paz, hoje mercadoria em falta no mercado brasileiro.
O casal argentino contou de suas viagens, falou de Bariloche, Viña del Mar, Sevilha e Paris, mas terminou o assunto com o fecho inesperado: obrigatório, mesmo, é ir a Punta del Este no verão.
Em Punta há prazeres para todos os gostos e bolsos, numa miscelânea de moda elegante e modismos ridículos, em educada convivência. Mas o mais importante, o diferencial, é o fato de ser um oásis de tranqüilidade em meio à violência e insegurança dos países sul-americanos.
A água fria não anima muito ao banho de mar, é verdade, embora alguns pareçam não se importar, talvez por não fazer comparações com as tépidas águas de Santa Catarina ou do nordeste brasileiro. De qualquer forma, ir à praia é programa obrigatório, o sol se apresente tímido ou esplendoroso, mesmo que seja só para caminhar, ler sob o guarda-sol ou confraternizar com os amigos.
Para muitos, obrigatória também é a caminhada acelerada ou a corrida no calçadão que circunda a península. Da mesma forma o passeio à beira do cais do porto, ao entardecer, com o único compromisso de assistir ao pôr-do-sol. Ou a esticada até onde os pescadores limpam os peixes, para ver os leões-marinhos (ou serão lobos-marinhos?) disputando as sobras, meio corpo colocado sobre o trapiche.
Nas ruas movimentadas, a maioria dos motoristas pára o automóvel, esperando o pedestre passar. Até os brasileiros, desacostumados a tais rasgos de civilidade, sentem-se motivados a obedecer às regras.
Nos cafés à beira das calçadas, em frente às xícaras vazias, homens solitários se demoram na leitura dos jornais, sem se sentirem constrangidos a consumir mais ou a abandonar o local.
Punta del Este é o paraíso da terceira idade. Em nenhum outro lugar se vê tantos velhos confraternizando, jantando em grupos animados, caminhando pelas calçadas largas, freqüentando as lojas, os cafés, as praias, os cinemas. Permitindo-se viver.
Justamente porque o melhor é o clima de tranqüilidade, a segurança, que permite aos velhos e aos jovens caminharem desacompanhados bem depois de os ponteiros do relógio indicarem o início do novo dia. A mesma segurança que faz com que, à meia noite, as calçadas estejam cheias de casais jovens empurrando carrinhos de bebês, com outro pequeno pela mão, dois ou três caminhando logo atrás, pois de repente houve uma proliferação de crianças, os argentinos decididos a povoar o mundo, pelo visto.
Caminhar pelas ruas, altas horas da noite, é prazer e tormento, pelas perguntas que cada um, mesmo relutante, se faz: Como é possível pensar em turismo no Brasil, quando não se tem um mínimo de segurança nas ruas, sequer dentro dos automóveis, das casas, dos locais de diversão? E as mais tristes: Por que eles conseguem e nós não somos capazes? O que aconteceu conosco? O que nos tornamos?
Perguntas seguidas da conclusão: Pelo menos uma vez na vida, é bom ir a Punta del Este. Só pra gente não achar normal sobreviver na insegurança.
Um comentário:
Marta!
Punta Del Este é , realmente, uma beleza para os olhos e uma tranquilidade para a alma.
Uma lástima não podermos usufruir das belezas de nossa Terra,assim como desfrutamos de outras paragens, pois de uns tempos para cá, apenas temos desgostos, por causa da insegurança!Parece que a luz no fundo do túnel ainda vai custar muito a aparecer...
Beijos Ruthe
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