A invasão realizada pelo MST à Estância da Palma, no Município de Pedro Osório, interior do Rio Grande do Sul, foi a primeira sofrida na região. Talvez tenha sido justamente essa circunstância a responsável pelo sentimento de perplexidade, consternação e profunda tristeza que vigorou em todo o desenrolar dos acontecimentos.
Toda história precisa de um vilão, alguém que faça o papel antipático e leve a culpa, se algo der errado. No enredo da Reforma Agrária (e bota enredo nisso), o escolhido foi o produtor rural. Quem sabe se pela sua própria maneira de ser e de se conduzir. Na cidade, as pessoas estão próximas, estabelecem contatos e parcerias, interagem com rapidez. No campo, isolados em suas propriedades, os homens se julgam sem tempo de sobra para fazer política e formar lideranças.
Aproveitando esse descuido e essa maneira de ser, o MST detectou o ponto fraco da classe rural. Até que o pessoal se comunique e consiga formar uma estratégia de defesa, a bagunça já está feita _ é o pensamento de alguns.
Na situação a que nos referimos, não foi o que ocorreu. As medidas legais foram tomadas com presteza, o Poder Público agiu com rapidez e eficiência, retirando os invasores no terceiro dia, numa operação irretocável tanto na postura das forças de segurança quanto nos recursos disponibilizados para evitar incidentes.
A mobilização de produtores em solidariedade à região atingida estendeu-se a todos os segmentos do agronegócio. Corretores, leiloeiros, caminhoneiros, engenhos de arroz, construtores, comerciantes, bancos, fornecedores, foram alguns dos que se fizeram presentes. Todos com a percepção de que não se tratava de um problema individual, mas de uma situação de insegurança física e jurídica, que poderia colocar a perder o momento propicio para investimentos por que passa a zona sul, após décadas de estagnação.
Merece aplauso a sensibilidade das pessoas que se fizeram presentes.
É provável que cada um dos ausentes tenha razões para explicar o não comparecimento. Uns dirão que tinham as vacas na mangueira, naquele dia os terneiros iam ser desmamados; outros não podiam abandonar a colheita do arroz; alguém talvez tivesse que buscar as guias para o transporte da safra; o comerciante não podia fechar a loja; muitos pensarão que não tinham nada a ver com o fato, nem conheciam os proprietários – e assim continuaria o rol das justificativas, com os políticos talvez argumentando que estavam em Brasília, defendendo os interesses da região.
Atividades e compromissos todos têm, mas há momentos em que a prioridade é defendê-los, sob pena de se tornarem impraticáveis. Se não houver uma clara demonstração de descontentamento, quando nos sentirmos invadidos, desmoralizados, aviltados, estaremos compactuando com a perda dos nossos direitos mais elementares, como o de ser donos do que nos pertence.
Aqui não se trata de afrontar ou medir forças, apenas é preciso deixar claro que as leis devem ser respeitadas e a ordem mantida. Seja uma fazenda, um rancho, uma casa na praia, um terreno bem localizado _ alguém pagou por ele e conquistou o direito de chamá-lo seu e legá-lo a seus descendentes.
E cada um pense que, no jeito que as coisas andam, amanhã pode ser sua a fazenda invadida ou a loja arrombada, como podem ser decisivos na urna os votos dessa região. Nessa hora, com certeza, todos gostarão de se ver cercados por gente ordeira e solidária.
2 comentários:
Marta!
Temos acompanhado todo este triste desenrolar. Não acho certo as pessoas tirarem o corpo fora como não acho certo esta invasão de privacidade que parece, de uns anos para cá, "estar na moda"!
Como se adonar do que não é seu e Como não estar presente para resolver de uma vez por todas este terrível impasse?
Rezo para que logo, logo tudo se acomode no devido lugar.
Beijos da Ruthe
A politicagem brasileira deu muita corda a esse bando de desocupados, esse grupelho de bandidos sob o cínico disfarce de "sem terra", agora, aí estão as conseqüências.
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