20 de mai. de 2007

Quebra de confiança

Depositar confiança em alguém é ter fé nessa pessoa, acreditar que se pode contar com ela, em quaisquer circunstâncias. Confiança é sentimento forte, capaz inclusive de impulsionar carreiras, como acontece com os profissionais convidados a ocuparem disputados e importantes cargos políticos, pela certeza de “serem de fé”.

Mas, sendo forte, a confiança também é vulnerável, suscetível de romper-se a qualquer golpe inesperado. Há um código não-escrito de ética que, ao ser violado, causa a quebra da confiança. Depois, é longo e tortuoso o caminho do retorno: para perder a confiança, basta um deslize; para recuperá-la, são necessárias muitas provas. Ainda que isso pareça injusto, não há como mudar, pois restaurar a confiança abalada requer tempo, paciência e humildade.

As situações mais corriqueiras servem como testes para demonstrar a nossa confiabilidade, como se fossem “pegadinhas” para nos pegar desprevenidos. Os momentos de raiva, despeito ou frustração, quando nos sentimos rejeitados ou desprestigiados, são os mais perigosos; neles é que deixamos cair as máscaras. Depois, não adianta remendar, o mal está feito.

Inúmeras pessoas desfrutam da intimidade de outras, aceitas e prestigiadas, e depois saem contando o que ouviram no recinto fechado da família. Amigos não resistem ao ímpeto de passar adiante os desabafos ouvidos em momentos de fragilidade. Funcionários expõem a vida e as atividades comerciais dos antigos patrões. Mulheres ameaçam _ e algumas cumprem _ contar as falcatruas com que compactuaram, quando casadas ou namoradas. Como cúmplices que delatam os ex-companheiros de crime, nem mais, nem menos. Homens também há que desnudam o relacionamento terminado, esquecidos de que um dia amaram e foram amados.

É lamentável que isso ocorra com freqüência numa sociedade que se pretende civilizada. Gente que se considera inteligente também deveria empenhar-se mais em controlar os próprios impulsos, pois a quebra de confiança, além de demonstrar falta de caráter, costuma ser perniciosa para a própria pessoa, a longo prazo.

Gente inconseqüente é vista com reservas pelos demais. Hóspedes indiscretos não costumam ser bem-vindos; “amigos” que expõem as intimidades de seus próximos com certeza farão o mesmo com a de outros; funcionários tendem a repetir a maneira de agir, seja para o bem ou para o mal.

Nos relacionamentos amorosos, da mesma forma, os comportamentos se repetem. Pessoas que julgam natural expor a vida privada dos outros, continuarão agindo dessa maneira, ainda que apenas pelo prazer de contar uma novidade.

Tratando-se de seres humanos, é compreensível que ocorram deslizes, enganos de interpretação, momentos de fraqueza de que ninguém está livre, mas pessoas idôneas assumem seus atos e mostram empenho em reparar o erro e em não repeti-lo. Toda pessoa capaz de reconhecer que agiu mal tem chance de recuperação. Tornar-se confiável pode ser uma aprendizagem, realizada através de erros e acertos. Empenhamo-nos em aprender tantas coisas desnecessárias, fazemos tantos cursos inócuos. Um curso de confiabilidade viria bem a propósito. O presente de formatura poderia ser um apito de aviso, para funcionar como alerta, segundos antes de cometermos qualquer inconfidência.

As palavras deixam de nos pertencer, depois de soltas ao vento. Escritas, então, podem causar estragos imprevisíveis. Por isso todo cuidado é pouco.

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