Namoro é tempo de investimento, em que cada um procura apresentar o melhor de si. Vale tudo, para atingir o prêmio final: a conquista do ser amado. São utilizadas horas infindas de diálogo e sedução, mensagens no celular, presentes pensados com semanas de antecedência, jantares a dois, surpresas gostosas. É a fase de se sentir especial. Temos essa tendência boba de nos vermos através dos olhos dos outros e, de repente, se alguém nos enche de atenções, é assim que nos sentimos: especial.
O tempo passa e as coisas mudam. A rotina se instala: a atenção dele e dela se divide entre mil atividades e compromissos; a paciência diminui; os defeitos parecem aumentar, vistos sob olhos menos complacentes; as qualidades já são conhecidas, por isso recebem menos elogios. Os problemas externos exigem atendimento imediato, o cansaço físico e mental faz com que os momentos de intimidade sejam adiados, quando não se transformam em troca de acusações e cobranças. Os dois percebem que o relacionamento já não corresponde às expectativas e começa a sensação de “entrei numa fria”. Enquanto isso, os amigos solteiros aparentam levar uma vida despreocupada e muito mais divertida. Sorrateiro, se instala o sentimento de estar perdendo alguma coisa. É a sedução do desconhecido e o desejo de se sentir novamente especial.
Ter alguém que ouça, entenda, ache encantadoras as nossas chatices, ria das piadas, não se importe se o pudim de claras desmoronou novamente, não reclame do dinheiro escasso nem cobre a falta de ambição, é o sonho de todo ser humano. Somos carentes de atenção e necessitamos de constantes massagens no ego. Desejamos nos sentir especiais e não é isso o que assegura aquela barba por fazer, só porque é domingo e o casal vai ficar em casa. Ou a roupa surrada que ela coloca, logo que chega enfeitada da rua, junto com as meias desfiadas, “que ninguém vê”. E os quilos extras acumulados, a falta de diálogo, os filhos em primeiro lugar, a sugestão de que ele mesmo aqueça o seu jantar, porque “a novela está num ponto ótimo”.
A mágica do amor perde a capacidade de encantamento, se não é constantemente renovada. Como uma anedota que se ouve uma vez, duas, e depois perde a graça.
As pessoas amadurecem e surgem novos interesses. O amor se exaure, abastecido só de amor. É saudável que ambos os parceiros tenham e desenvolvam seus projetos pessoais, mas, ao mesmo tempo, é importante que continuem fiéis a si mesmos, para continuarem a ser aquelas pessoas que atraíram a atenção e se fizeram amar.
Quando os amantes se esquecem de preservar as qualidades e a maneira de ser e agir utilizadas no tempo da conquista, o relacionamento começa a degringolar. O exercício de amar é sujeito a altos e baixos, pisadas na bola, escorregões, falsetas. Cheio de encontros e desencontros. Em certa altura, os parceiros se desconhecem, distanciam, acusam, agridem. Como se, em vez de amantes, fossem inimigos. Aí é hora de refazer os passos e voltar ao princípio da história, quando cada um se descobriu especial aos olhos do outro. Porque, quando esse sentimento perdura, o resto se resolve.
Um comentário:
Querida Marta!
Tua Crônica sobre este assunto é perfeita - não esqueceste de nada!
O Amor entre duas pessoas é um paraíso, mas ele não é fácil, e ao longo dos anos,precisa ser muito trabalhado, muito sapo a ser engolido e às vezes até um brejo inteiro...Mas quando vale à pena, vamos à luta!
Homem e mulher deveriam levar muito à sério as metamorfoses que, por certo, não deveriam ocorrer, pelos longos anos de convivência, e serem os mais possíveis "iguais" ao que eram antes.
E "Viva o Verdadeiro Amor"!
Beijos da Ruthe
Postar um comentário