23 de jun. de 2007

Que falta faz um GPS

Julguei que o GPS _ sistema de posicionamento global por satélite _ fosse demorar a chegar ao Brasil, mas as primeiras cidades brasileiras já o experimentam, o que deve significar que breve será coisa banal.

A experiência de alugar um carro com GPS é imperdível. Há dois anos, ao chegar ao aeroporto de Miami e pegar o automóvel alugado, podíamos escolher, no instrumento de localização, entre os idiomas inglês ou espanhol para nos levar ao endereço escolhido. Neste ano, ocorreu uma grata surpresa: a “moça” do GPS falava português. Só que não era qualquer português, era português de Portugal, com sotaque carregado e dificuldade de entendimento para os brasileiros, espantados com a dificuldade em entender a língua-mãe. Quando chegávamos ao endereço, por exemplo, em lugar de dizer “Chegando ao seu destino” ou outra frase similar, a moça dizia: “Entrando em casa”. E por aí se sucediam dicas de trânsito, despertando risadas e atrapalhações.

Para piorar, ao contrário das experiências anteriores com o dito aparelho, a intérprete tinha o péssimo costume de avisar em cima da hora sobre as medidas a tomar. Se fosse para virar à direita na próxima esquina, ela não ficava, como as suas colegas, avisando com antecedência, preparando o terreno; simplesmente, no último momento, mandava virar e pronto. Lógico que muitas vezes não obedecíamos, porque, até a mensagem ser absorvida, a esquina tinha ficado para trás. Mas aí, com extrema paciência, ela anunciava: “Refazendo a rota...” e recomeçava tudo.

As atrapalhações eram tantas que, entre risadas, às vezes o motorista preferia abdicar dos seus serviços e “errar sozinho”. Logo, arrependido, voltava a pedir as suas sugestões sobre a melhor maneira de chegar a qualquer local. Após alguns percalços e descomposturas _ que ela não ouvia, por isso podia ignorar e continuar refazendo o roteiro, até os atrapalhados turistas se acharem _ terminamos nos familiarizando com o sotaque da moça do GPS e descobrindo o óbvio: ela sempre tinha razão.

Após alugar um automóvel com GPS, em cidade desconhecida, essa opção passará a ser obrigatória, em outras viagens.

Faz falta um GPS para nos conduzir pela vida, mostrando vários roteiros, com as diferentes opções: caminho mais rápido, caminho pitoresco, caminho perigoso. “Evite a rua da Malandragem”, “Contorne o trevo da Raiva”, “A via do Amor é de mão dupla”,”Rancor: estrada sem saída”, “Proibido virar à esquerda na mesquinharia”, “Pise fundo na Generosidade” _ poderiam ser as indicações.

Ainda que as orientações fossem dadas em cima da hora, sem tempo suficiente para as decisões acertadas, sempre haveria o conforto de refazer os passos e recomeçar, sem ouvir sermões ou reprimendas. Porque isso a “moça portuguesa” tinha: paciência infinita.

Ela também não ficava falando: “Não avisei? Quis fazer esse caminho, agora se vire”. Ao contrário, em vez de malhar sobre os erros, apontava a solução, com plena aceitação da nossa humanidade. E, de inhapa, enquanto nos trazia de volta ao bom caminho, permitia que ríssemos do seu jeito de se comunicar, desanuviando o ambiente.

Apesar da fala engraçada, provavelmente ocasionada pela má tradução, a “moça do GPS” era uma grande educadora. Bem que eu gostaria de contar com os seus conselhos equilibrados e pacientes, pelos caminhos da vida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Marta!
Muito importante absorver ensinamentos novos, para uma melhoria de vida! Saber a hora certa para atitudes que necessitam ser providenciadas, manter a calma, solicitar explicações, mas como sempre afirmo com veemência - se valer à pena!
Ruthe