9 de jun. de 2007

Pra desacomodar

Em crônica anterior, a frase “bode velho gosta de capim novo” suscitou os questionamentos esperados, pelos desdobramentos cabíveis ao tema espinhoso. Relacionamentos entre pessoas de diferentes faixas etárias têm a característica de mexer não só com as emoções dos protagonistas, também com as dos assistentes.

Algumas mulheres mais velhas aparentam se sentir humilhadas, quando homens de sua geração começam a se relacionar com moças em idade de serem suas filhas. Da mesma forma, alguns homens se sentem atingidos em sua virilidade, ao notarem o encantamento das esposas pelos belos olhos do Fábio Assunção ou pelo sorriso contagiante do Thiago Lacerda, quando não pelos músculos masculinos mostrados à profusão nas novelas globais.

De maneira preconceituosa, temos tendência a supor que a atração por pessoas mais jovens se baseia em belos corpos, carnes firmes, seios empinados. Ainda que esses sejam fatores importantes, à primeira vista, é provável que outros sejam os responsáveis pela preservação da relação. A convivência com os jovens é fonte de renovação, quando os mais velhos se permitem aceitar as diferenças. Jovens de espírito saudável proporcionam novo ânimo, pelo fato de serem otimistas, dinâmicos, realizadores. De repente, a convivência com espíritos ainda não poluídos pelas mesquinharias do mundo adulto funciona como elixir de juventude.

Nem todos os jovens, contudo, possuem essa capacidade de transmitir energia. Alguns já trazem entranhados o medo e a desesperança. Sob o invólucro atraente, escondem desânimo, baixo-astral, descrença em tudo e em todos, e esses terão dificuldade em manter aceso o fogo do interesse, numa relação. Justamente por estarem eles também carentes da alegria de viver.

Por outro lado, independente da idade, tanto homens como mulheres podem ser atraentes e interessantes, ainda que despreocupados de competir com os padrões jovens de beleza. Em geral, são pessoas participativas, atualizadas, interessadas em desenvolver seus projetos pessoais, que não dependem dos outros para lhes proporcionar felicidade e novas emoções. Pessoas que se aceitam e se amam, por isso se tornam propensas a serem amadas.

Mas não é somente através do envolvimento amoroso ou sexual que pessoas de diferentes faixas etárias podem trocar energia: relações comerciais ou de amizade também podem proporcionar essa interação, com grande sucesso. Será rico o intercâmbio entre as diferentes gerações, se cada uma souber compreender e aceitar as limitações e os méritos da outra.

Espíritos velhos, cansados, costumam desenvolver a convicção de que o mundo lhes deve homenagens, por isso fazem cobranças que, em vez de atrair, afastam. Espíritos livres interagem, apóiam, reforçam as vitórias e conquistas alheias. Abastecem-se pelo seu próprio prazer de viver, por isso aceitam que os outros tenham diferentes maneiras de pensar e amar.

Mas é bom quando qualquer situação ou frase perturba e desacomoda. A estabilidade tem o inconveniente de quase nos convencer de que só existe uma verdade.

2 comentários:

Anônimo disse...

Marta!

Vivo minha vida com muita alegria apesar de ter restrições e digo que não são poucas. Acredito que devido a esta aceitação, provém meu bem-estar. Todos tem defeitos e assim aceito os meus e o dos outros, não querendo mudar ninguém.
Beijos da Ruthe

Sergio Grigoletto disse...

Marta!

Inesgotável o tema né? E confesso que , preocupadamente me vi em trechos nada edificantes no texto.
No entanto, o final me redimiu: "A estabilidade tem o inconveniente de quase nos convencer de que só existe uma verdade".
Isso é "raulseixismo" puro, quando diz que "desde os doze anos duvidava da verdade absoluta". Depois, no correr de sua obra, outras vezes ele abordou isso. Sintetizando: a verdade de cada um tem mais valia que a verdade genericamente aceita.
Estável, acho-me um espírito envelhecido, que chega a acreditar que tudo que tinha de ser feito, já o foi.
Vendo, ouvindo e lendo coisas assim, vejo como ainda não encontrei minha verdade.
Começamos essa discussão partindo do relacionamento vis-a-vis entre dois seres. No entanto, bem mostrado fica que que o um, o dois quando tal, é apenas célula do todo.