Numa crônica nostálgica, o cronista Ivan Ângelo, na Veja São Paulo, lembrou como era o aeroporto de Congonhas, em tempos idos. Através da crônica, reportei-me a São Paulo de quando a conheci. Aos sábados à noite, o programa era comer pizza; nas madrugadas, tomar a sopa de cebola no Ceasa. Aos domingos _ sem a distração proporcionada pela televisão _ os paulistanos iam ao aeroporto ou ao parque Ibirapuera.
No Congonhas, lembra o cronista, ficavam as melhores lojas, a elegante barbearia, o salão onde se engraxavam os sapatos, a melhor banca de revistas. Era um programão ir ao aeroporto e ficar olhando as aterragens e decolagens. Os passageiros se vestiam com elegância; as malas eram grandes, muitas de couro. Quando chegavam à escada do avião, os viajantes acenavam em despedida para os familiares. Viajar de avião era charmoso e emocionante.
No retorno das viagens, era comum às mulheres serem esperadas com ramalhetes de flores. Às vezes, recebiam caixas com rosas ou orquídeas inclusive na partida.
Por tudo isso, o passeio dominical dos paulistanos era ao Congonhas, o aeroporto mais movimentado da América Latina. Ciumentos, os cariocas se referiam a ele como “a praia dos paulistas”.
Enfim, eram outros tempos. De lá para cá, tudo banalizou: as viagens aéreas passaram a ser rotineiras, ninguém mais perde tempo pensando na roupa com que vai viajar, as malas diminuíram de tamanho e ganharam rodinhas, aeromoças, pilotos e comissários de bordo perderam a áurea de charme que os envolvia. Os viajantes vão e voltam sem alarde, ninguém mais abana em despedida.
Mas, afinal, por que o assunto veio à tona? Apenas porque a crônica do Ivan me deu a oportunidade de provar que era despropositado o olhar de dúvida com que fui presenteada, na ocasião em que comentei que, em outros tempos, o programa dominical dos paulistanos era ir ao aeroporto. Aliás, dúvida compreensível, referindo-se a São Paulo cosmopolita dos dias atuais.
Mas os comentários desencadeados pela crônica também me proporcionaram saber mais sobre Congonhas, tudo o que representou para uma geração de jovens, hoje homens e mulheres maduros. Após as diferentes festas, contou-me o amigo, os rapazes costumavam ir ao aeroporto, tomar café. No princípio, as meninas não iam, por sempre andarem acompanhadas das mães. Com o tempo, mães e filhas aderiram ao costume, os vários grupos enchendo o saguão do Congonhas até o amanhecer, quando todos subiam ao terraço e lá assistiam ao nascer do sol.
Mais tarde, ficaram famosos os bailes de gala no salão do aeroporto, alugado para festas de formatura e outros eventos. Em tempos de mesada controlada, os rapazes saíam de casa com o dinheiro certo para uma cuba libre e a volta de táxi. Como optavam por duas doses, voltavam a pé, em grupos, desde o aeroporto até as suas casas, nos Jardins. De smoking, naturalmente, sem serem assaltados, raptados ou sequer molestados.
Em tempos idos, eram seguras e hospitaleiras as nossas cidades. Em tempos idos, Congonhas era cenário de festas, risos, namoros, alegria.
Um comentário:
Marta!
Duvido de que alguém não fique muito triste ao constatar a tremenda mudança de comportamento e atitudes verificadas de uns tempos para cá!A queda foi brusca!
Ruthe
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