Cobrado sobre o desempenho mediano, o jovem falou que estudava o suficiente para passar de ano. Ante o ar de surpresa do pai, explicou que não queria ser diferente dos colegas, não desejava se destacar.
O mesmo falou, anos depois, uma jovem: detestava ser elogiada, posta em primeiro plano; preferia perder-se na multidão, anônima.
Como o jovem possuía inteligência bem acima da média e a jovem, além de inteligente, era muito bonita, fiquei pensando nas razões que os motivariam a pretender desperdiçar os atributos fornecidos gratuitamente pela mãe natureza.
Talvez a explicação esteja justamente na tal gratuidade, que não é verdadeira. Tudo tem seu preço, e às vezes receamos não estar em condições de pagá-lo.
Quando um menino se destaca na sala de aula, ao mesmo tempo em que desperta a atenção e os elogios do professor, evidencia a má atuação dos colegas, que se sentem cobrados a fazerem o mesmo. Despeitados, vingam-se, atribuindo-lhe apelidos pejorativos, excluindo-o das brincadeiras e jogos.
Quando, pelas mesmas razões, a menina se destaca, sofre iguais punições, sendo isolada. Se for bonita, também será invejada e algumas vezes caluniada. Se, ainda por cima, for favorecida pela condição financeira, cuide-se: às escondidas, sempre haverá alguém querendo lhe puxar o tapete.
Inseguro, o jovem se protege, procurando permanecer na média, o que é um mau serviço prestado a si mesmo. No mundo adulto e profissional, precisará se destacar, mostrar competência, apresentar idéias originais, facilidade de comunicação. Ser educado, bem-vestido e seguro de si também contará pontos, com certeza. Em cada vez maior número de profissões, até as maneiras à mesa e a desenvoltura na vida social podem ajudar a abrir ou a fechar portas. No duro cenário da concorrência profissional, mostrar-se-ão necessários todos os requisitos que o jovem evitou desenvolver.
Nessa ocasião, são comuns os cursos para reconhecer as aptidões pessoais e desenvolver a autoconfiança. Mas um tempo grande foi perdido e, em alguns casos, o trabalho de reconstrução da personalidade é penoso, quando não infrutífero. Por isso, pais e professores deveriam ficar alerta aos sintomas de medo do próprio potencial. Porque esse desejo de não aparecer nada mais é que o medo de nós mesmos, da capacidade de sobressair e talvez atrair a inveja, receio das faces que o sucesso pode mostrar, tanto nos outros como em nós mesmos.
Mas, embora a natureza agracie a alguns com dons diferenciados, a cada um ela concede alguma característica especial. É mais produtivo reconhecer e explorar os próprios dons que perder tempo, “melando” as atuações alheias. Há prazer e felicidade na descoberta de que, igual aos outros, temos muito a desenvolver. Basta que não tenhamos medo de nós mesmos.
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