Em Porto Alegre, um criminoso foi aplaudido pelos moradores de Vila Areia, após matar um soldado e ferir dois policiais civis, quando resistia ao cerco dos policiais, no interior de um barraco. Virou herói.
Na opinião dos moradores de Vila Areia, ele era “uma boa pessoa”, “trazia segurança ao lugar” e “dava dinheiro para comprarem remédios ou levar um filho ao médico”.
Anteriormente, em maio, policiais militares do 11 BPM, ao efetuarem a prisão de traficantes armados com fuzis, tiveram que usar bombas de efeito moral para se proteger da fúria de um grupo de mulheres da Vila Mário Quintana.
Algo precisa ser repensado, quando se invertem os papéis entre policiais e bandidos.
Nas vilas, a presença da polícia é símbolo de violência ou da segurança e proteção desejadas? O Estado cumpre seu papel ou negligencia principalmente o pessoal da periferia? Muitos policiais são corruptos, aumentando a desconfiança e a má-vontade da sociedade para com eles? Pela forma como se expõem, os policiais são bem remunerados? As leis são frouxas e desestimulam o seu cumprimento? São muitas as perguntas, óbvias as respostas.
O criminoso de Vila Areia era fugitivo da Colônia Penal Agrícola de Charqueadas, onde cumpria pena de 29 anos de prisão por três assassinatos e de onde já havia fugido, quando usufruía o benefício de regime semi-aberto. Na ocasião da segunda fuga, ele novamente estava em regime semi-aberto.
Se para nós, leigos, parece que alguém está de brincadeira nessa história, como se sentirão os policiais envolvidos, diante de tanta complacência? Até que ponto vale arriscar a vida, quando são inúmeros os casos de policiais que levam mais tempo preenchendo a papelada burocrática do que leva o bandido para ser solto?
O filme Tropa de Elite, como bem diz a revista Veja, é tapa na cara. Ao retratar o ápice a que chegou a violência no Brasil _ numa obra de ficção, mas com exemplos colhidos na vida real _ o filme arrancou a máscara da sociedade brasileira. Bandido é bandido, sem essa de procurar justificativas para o crime. Usuário de drogas deixou de ser pobre coitadinho; virou cúmplice de traficante. ONGS defensoras dos direitos sociais que dão cobertura aos traficantes também são responsáveis pelo avanço da criminalidade e pelas mortes ocasionadas. Alguns policiais são corruptos, mas muitos são honestos e estão na linha de fogo, sem o respaldo da sociedade.
Algo precisa ser feito, com urgência. Isso é só o começo, mas é tarde demais para todas as famílias que choram seus mortos, muitos vítimas inocentes e desavisadas da violência solta nas ruas.
Um primeiro passo poderia ser a formação dos policiais de bairros, que conheceriam e seriam conhecidos dos moradores de cada local. Um policial em quem as pessoas, inclusive nas vilas mais pobres, pudessem depositar confiança. Não como esses que passam na rua, caminhando aos pares, sem nem nos olhar na cara ou dar bom-dia, como se à espera de qualquer infração.
Estamos no meio do pesadelo e o despertador já tocou inúmeras vezes. Que inércia é essa que nos impede de acordar?
2 comentários:
Marta!
Legal ter abordado isso. Escrito assim, localmente, retira o aspecto de ficção que existe nisso, quando só falam em Rio e São Paulo.
É uma verdade nacional.
Marta!
A maioria das pessoas permanece dormindo e o acordar continuará a ser muito lento. Triste esta constatação, mas é a mais pura realidade. As mudanças requerem muito esfôrço, cumplicidade e o apoio, raros hoje em dia. Quem sabe, um dia...
Beijos
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