30 de dez. de 2007

Valeu a pena

Lá nas Minas Gerais, morreu o José Jonusan. Editor do jornal A Razão, ele costumava publicar o meu trabalho. Por ocasião do lançamento do primeiro livro, conquistou o meu carinho, quando se deu ao trabalho de escrever um artigo a respeito, com pormenores que só podia ter colhido no site do Diário Popular – pormenores acrescidos das suas conclusões, entre simpáticas e espirituosas.

Jonusan era romântico, idealista, empreendedor, generoso _ qualidades facilmente percebidas nas entrelinhas do semanário. Tinha uma bonita história de amor com Luana, também facilmente perceptível.

Pois foi a Luana quem me enviou a notícia da morte do Jonusan, após longa enfermidade. Entre os seus guardados, ela encontrou o livro Biplano, de Richard Bach, em que ele sublinhara duas vezes a última frase: “Valeu a pena”. A propósito da frase sublinhada, ela escreveu: É o que consola.

Nada mais gratificante, em qualquer final, que a certeza de que valeu a pena. Seja o trabalho que exigiu demais, o estudo que levou ao conhecimento das nossas limitações, a desilusão transformada em aprendizagem, o amor que acabou, a vida que se esvai – que bom quando, apesar de tudo, concluímos que valeu a pena.

O ano chegou ao fim, mais rápido do que seria razoável. Para alguns ele trouxe oportunidades, sucesso, alegrias, renovação. A outros deu rasteiras, levou amores e amizades, pessoas com muito a acrescentar, gente que se foi sem aviso. O tempo não nos trata com a complacência merecida, por isso desejamos virar logo a página, na esperança de que o próximo seja melhor.

Contudo, não há um tempo feito só de alegrias, nem de paz ou paixão; como as situações, as emoções se confundem. Tanto pode a alegria trazer a reboque a inveja e o despeito, como a dor vir acompanhada de sabedoria e tolerância. Difícil é a gente entender e aceitar as mudanças, quando o mundo vira de cabeça para baixo e se perde o chão.

Bom seria se, às vezes, o relógio pudesse girar ao contrário, para nos dar a chance de uma última palavra, um derradeiro olhar, o pedido de desculpas que ficou preso na garganta, o elogio que perdeu o sentido. Fazemos opções, a cada passo; muitas vezes nem percebemos o peso das escolhas, depois nos tornamos responsáveis por elas ou pagamos um preço que não havíamos considerado – como o do arrependimento quando já nada se pode fazer.

Por isso, na verdade, só conta o presente, quando ainda temos o poder de decisão sobre a nossa vida.

Do ano que termina, desejo que cada um de nós possa dizer que valeu a pena. Que algo de bom tenha sobrado, ainda que seja difícil e doloroso admitir. E que o novo ano nos encontre cheios de garra, entusiasmo, força para mudar o que for preciso e capacidade para apreciar as coisas simples e as pessoas verdadeiras. Que nos tornemos mais tolerantes, solidários, compreensivos. Principalmente, que façamos as escolhas certas, para que, ao final, possamos dizer que valeu a pena.

2 comentários:

Anônimo disse...

Graças a Deus, tudo meu valeu a pena: minha família,meu marido, meus amigos, minha profissão, a escolha de meus médicos.

Beijos

Tom Vital disse...

Jonusan era um mestre um guerreiro.Ele fez do jornalismo profissão de fé.Ele foi o primeiro a publicar os meus versos.Infelizmente quando pude publicar o meu primeiro livro de Ficção ele já havia partido.
Era um grande amigo.Embora eu fosse uns quarenta anos mais jovem que ele.
Fiquei muito triste quando soube do
seu falecimento...mas tenho certeza que ele cumpriu a sua missão.