21 de fev. de 2008

Nem tão invisível

Em outra crônica, referi-me ao tempo como “parceiro invisível”. Uma rápida olhada no espelho me obrigou a concluir que ele não é tão invisível como gostaríamos, todos nós. O tempo deixa marcas profundas no rosto, no corpo, na alma e na mente.

As primeiras dispensam comentários. Quanto às marcas na alma, quando bem aproveitadas, servem para nos tornar mais seguros, tolerantes, compreensivos; se tivermos sorte, ajudam a sermos pessoas melhores.

Já as marcas na mente têm conseqüências variáveis, algumas divertidas, outras amargas. Porque as situações se repetem, e a toda hora temos a sensação de já ter presenciado essa cena, ouvido essa conversa. Alguém exagera na explanação, certo do seu poder de convencer, mas ouvimos tantas histórias semelhantes, que as falhas do discurso são facilmente percebidas. Outro se desculpa pelo atraso ou pelo não comparecimento, mas o teor das justificativas é tão conhecido, que só a educação impede que o desmascaremos. A jovem fala que recebe flores, todos os meses, na data do aniversário de namoro, e é impossível escapar ao pensamento de que essa gentileza não irá longe (salvo honrosas exceções). A funcionária diz que a patroa é “uma mãe” para ela e essa treme nas bases, pelas tantas vezes em que ouviu a mesma frase, seguida de comportamentos nada condizentes com a sua idéia de como tratar a figura materna.

Dizem que o diabo não é sábio por ser diabo, mas por velho mesmo – e é isso que o tempo deve nos ensinar: uma melhor percepção do mundo ao redor, aliada ao empenho em nos reciclarmos continuadamente.

Pessoas de mais idade, de maneira geral, preferem ir com calma, postergar as coisas até elas perderem a importância, por acharem que nada vai dar certo ou merece o seu esforço. Esse tipo de pensamento, embora encontre justificativa nos filmes repetidos centenas de vezes na nossa telinha interna, torna frustrante e sem perspectivas o dia-a-dia. São as nossas experiências de vida trabalhando contra nós.

Por isso é essencial a convivência com os jovens, a aceitação do seu entusiasmo, a participação nos seus planos. Salvaguardado o bom-senso, é válido incentivá-los a arriscar, estimulá-los a provar o seu ponto-de-vista, torcendo para que tenham sucesso. Muitas vezes, para surpresa dos chefes e dos próprios pais, os jovens alcançam êxito em situações improváveis, pelas circunstâncias serem outras ou por estarem mais preparados para enfrentá-las.

Contudo, mesmo jovens confiantes, seguros de si, necessitam da aprovação das pessoas em quem confiam e a quem admiram. Sendo inteligentes, compreendem a vantagem de aproveitar a perspicácia e o conhecimento acumulados pelas outras gerações; ao mesmo tempo, precisam ter reconhecidas as suas capacidades, para se sentirem entusiasmados a melhor desenvolvê-las.

Nesse intercâmbio de idéias e apoio mútuo, as diferenças de idade somam, ao invés de dividir ou subtrair. Quando os espíritos se abrem, o tempo se torna parceiro. Mesmo que não seja invisível.

Um comentário:

Anônimo disse...

MARTA!
Viver e conviver nunca foi fácil. É preciso encontrar uma fórmula, para que tudo ou quase tudo dê certo, entre pessoas da mesma faixa etária ou não.Todos tem algo a dizer e, cabe à cada um optar pelo que melhor lhe convém.
As marcas que a vida deixa em nós, ficam para sempre, umas de maneira mais amena, outras, profundamente, dependendo do temperamento de cada um, acredito.
Beijos