Cada ser humano é único, com seus sonhos, manias, acomodações e preferências. Cada um possui o seu jeito de ser e a maneira própria de interpretar a vida.
Alguns trabalham o suficiente para garantir o salário no final do mês, outros encontram prazer só no trabalho. Uns esperam com ansiedade o final da semana, outros não sabem o que fazer no domingo. A maioria detesta a segunda-feira, mas há quem acorde animado com a perspectiva de colocar em prática as idéias concebidas na véspera. As pessoas são diferentes, é a óbvia conclusão, e isso é o que as torna interessantes.
As diferenças, não raro, são responsáveis pela atração entre os opostos. Isso se nota, com freqüência, tanto nos relacionamentos amorosos como em diversos outros tipos de parcerias, inclusive comerciais: se um é econômico, o outro é perdulário; se um é extrovertido, o outro pouco abre a boca; se um só quer saber de viajar, o outro prefere o conforto do lar; se um gosta de novidades, o outro receia o desconhecido – e por aí as diferenças se estendem.
No início de qualquer relacionamento, as diferenças funcionam como afrodisíaco; com o tempo, quando não gerenciadas, costumam se transformar em divergências.
Na adolescência, eu fazia parte de um enorme grupo de meninas e rapazes. Aos domingos, a programação tinha início na matinê do Cine Capitólio, às catorze horas. Como as mães, rigorosas, proibiam que sentássemos no cinema ao lado dos namorados - dá pra acreditar? – íamos juntas, todas as meninas, lotando uma ou duas filas do cinema, enquanto os rapazes se colocavam estrategicamente no andar superior, debruçados sobre o balcão que lá existia, em forma de U. Naquele tempo, hoje difícil de imaginar, até as luzes se apagarem para o filme começar, o jogo de sedução constava de olhares trocados entre as parcerias dos dois sexos, mantidas à cuidadosa distância, segundo os rigores da época. Olhares intensos, ameaçando incendiar o prédio antigo.
Por tudo isso, já se vê que o programa era imperdível. Eu, contudo, possuía uma prima tímida, avessa a grandes grupos, que, na falta de melhor companhia, costumava ir comigo e todo o animado grupo às matinês do Capitólio. Pela manhã, no entanto, era comum ela telefonar, sugerindo programa diferente: _ Que tal nós duas irmos ao Cine Guarany, onde passa um ótimo filme?
Na maioria das vezes – devo confessar – eu me recusava, tanto pela tristeza de perder o outro programa, como pela convicção de que “quem vai ao ar, perde o lugar”, como então se dizia. Na minha falta, era provável que o pretendente logo encontrasse outro interesse.
Mas, apesar dessas fortes razões, algumas vezes eu cedia, na sabedoria dos meus catorze ou quinze anos, porque gostava da prima e queria agradá-la.
Em todos os tipos de relacionamentos e parcerias, às vezes precisamos abdicar dos nossos gostos, para atender ao desejo do outro e, de certa forma, preservar o que vale a pena. Por alguma estranha lei da natureza, quando isso é feito com boa vontade, em geral se transforma em prazer e diversão para ambos.
mfsc@vetorial.net
Um comentário:
Além das diferenças entre pessoas diferentes, nota-se a diferença dos gostos e hábitos que vão mudando com o passar dos anos e com as mudanças do ambiente e das épocas. Alguns começaram na época do rádio e hoje estão na época da internet e dos computadores, e isso influencia muito. Tudo está mudando cada vez mais rápido. Alguns até estão esquecendo que não se deve mentir e dão valor para a honra e a honestidade (menos a maioria dos políticos...).
Simeão
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