10 de mai. de 2008

Mães e filhas

Mães bonitas, mães feias, mães educadas, mães rústicas. Mães amorosas ou desnaturadas, ricas ou pobres, cheias de cuidados ou displicentes. Mães alegres e prontas pra qualquer aventura; mães depressivas. Há mães de todos os tipos, porque mães são mulheres que, por acaso ou com pleno consentimento, receberam o dom da maternidade.

No programa em homenagem ao Dia das Mães, diversas mulheres falaram no relacionamento com a sua. Homens costumam se relacionar melhor com as mães; em geral, são as filhas quem com elas se atrita. Enquanto algumas se referiam à sua como a melhor amiga, o porto seguro com que sempre podiam contar, outras relataram a falta de sintonia, a animosidade latente, ao ponto de os caminhos precisarem se bifurcar, para garantir a sobrevivência emocional.

Mães deixam marcas, nem sempre boas. Diferentes entre si, algumas são compreensivas, coração atento às necessidades do rebento; outras sabem estragar os melhores momentos, empenhadas em apontar defeitos e fazer cobranças.

Humanas e frágeis, atordoadas pelas responsabilidades colocadas sobre seus ombros, mães às vezes perdem o controle, gritam, esbravejam, desejando que alguém tomasse conta delas, pelo menos uma vez na vida. Crianças perdoam, mesmo sem entender. Como cãezinhos fiéis, acarinham a mão que recém lhes bateu. Querem o abraço do braço que as empurra.

Adultos remoem as cenas vivenciadas na infância, extraem angústia e desamor do filme repetido e ampliado em sua imaginação. Adultos sentem dificuldade em perdoar, então se machucam e aumentam suas dores, na ânsia de entender os porquês.

É difícil reconhecer que, antes de ser mãe ou pai, aquela pessoa é ela mesma, do jeito que foi criada e se desenvolveu, quando ainda nem havia assumido a função materna ou paterna. Se for chata, egoísta, ranzinza ou desonesta, é provável que permaneça fiel à sua natureza.

Compreender mãe e pai, enxergar as suas qualidades e defeitos, sem se sentir culpado ou responsável, é o primeiro passo para alguém se aceitar como é, sem necessidade de mostrar igual competência ou, ao contrário, provar que não é igual.

A compreensão se torna menos difícil, quando a filha se vê no papel de responsável por outra criatura. Com dor de cabeça, cólica menstrual, desanimada, de mau-humor, sem dinheiro e com contas a pagar – em qualquer situação, um ser indefeso está sob a sua responsabilidade. É preciso mostrar cara alegre e tocar pra frente. “Afinal, ele não pediu pra nascer”, sempre haverá alguém para lembrar. Só que algumas mulheres não têm estrutura para esse papel.

Se muitos, como eu, têm ou tiveram a felicidade de possuir uma mãe amiga, generosa, companheira, é preciso concordar que nem todos têm a mesma sorte. Porque ninguém tem a mãe que merece ou escolheu; de certa forma, mãe também é loteria, sorte grande, coringa ou mico-preto tirado por acaso no baralho da vida.

A aceitação dessa realidade pode ser o primeiro passo para um relacionamento melhor, de igual pra igual, em que as pessoas não se idealizem, mas consigam se amar apesar das diferenças. Com capacidade para desenvolver o seu próprio discernimento, a fim de que cada um se torne responsável pelas suas escolhas e aprenda a ser feliz de um jeito só seu.

Um comentário:

Anônimo disse...

Marta!

Que felicidade, imensurável, a nossa de termos sido privilegiadas com nossas maravilhosas e amigas Mães.
A Mãe, quando moça, nunca pensou nela primeiro, e agora, já idosa, continua pensando igual.
Relacionamentos são deveras difíceis, mas quando o amor está presente,tudo é lindo e inesquecível!

Beijos