Imagine a cena: contrariado por qualquer coisa, um guri aplica pontapés nas canelas no pai. No início, o homem acha graça, tenta segura-lo, enche de beijos, orgulhoso da vitalidade do seu rebento. Entre as pessoas à volta, uma ou outra observa a cena, contrariada; a maioria não dá importância (afinal, as canelas não são delas); algumas justificam as ações do guri: deve estar com fome, quem sabe o pai prometeu e não cumpriu, explicações logo ocorrem.
Benevolente, o homem pensa agradar ao filho com pequenos mimos, que não satisfazem. Bom mesmo é dar pontapés nas canelas e exigir sempre mais, se esse é o caminho para ser atendido.
O menino cresce, as reivindicações se transformam em exigências e a agressividade aumenta. Logo, bate em todos, dono do campinho. Perplexo, o pai compreende que breve será incapaz de contê-lo. Antes que a parada esteja perdida, procura os meios para recuperar a autoridade perdida.
O MST poderia ser esse guri, desenvolvido sob a complacência de um Estado cúmplice, sob os olhares benevolentes de milhares de cidadãos que, não sendo chutados, achavam graça em ver os produtores rurais defendendo as canelas (e a vida e a propriedade), sem o menor apoio.
Assim, o MST cresceu e se fez forte pela adesão de grande número de intelectuais, artistas e parte significativa da mídia, alguns imbuídos do falso sentimentalismo que o MST sabe provocar (mulheres e crianças à frente, miseráveis barracas pretas, multidões se deslocando a pé em busca de uma oportunidade), todos distanciados da realidade no campo e das causas políticas atrás do movimento que se dizia social.
Segundo o jornal Estado de São Paulo, conforme dados colhidos pelo levantamento Geografia das Ocupações de Terras, atualizado pelo Núcleo de Estudos, pesquisas e projetos de Reforma Agrária (NERA), ligado à Universidade Estadual Paulista: “desde 1988, quando entrou em vigor a atual Constituição, que atribui ao Estado a tarefa da reforma agrária, até 2007, ocorreram 7.561 invasões a propriedades rurais no Brasil, cerca de 400 por ano”.
Dezenove anos de pleno consentimento permitiram que o MST se transformasse num adolescente robusto, truculento e fazedor de suas próprias leis.
No Rio Grande do Sul, após minuciosa investigação, o Ministério Público resolveu dar um basta no descalabro, impetrando ação civil pública contra o MST, a fim de responsabilizá-lo criminalmente por seus atos, como invasões a propriedades rurais e prédios públicos, depredação de patrimônio, dano ambiental, mutilação de animais e técnicas de guerrilha.
Como guri consentido, o MST não gostou, por isso pediu solidariedade ao movimento e apresentou denúncia formal à Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal pelo que considerou um complô contra ele.
Contudo, o posicionamento do Ministério Público do RS mereceu todo o apoio dos cidadãos que desejam trabalhar e produzir em paz. A outros, partidários ou inocentes úteis, inclusive intelectuais, desconhecedores dos fatos reais, a atitude pareceu arbitrária. Como circunstantes observando com naturalidade o pai a levar pontapés do garoto malcriado, eles encontram justificativas para o vandalismo e o desrespeito à propriedade. Só porque as suas canelas não estão sendo chutadas, ainda.
Para sorte de todos nós, os promotores gaúchos compreenderam o perigo iminente e iniciaram o corajoso movimento de reação, que deverá se estender a outros Estados, mostrando que esta terra tem lei.
2 comentários:
Analogia perfeita.
Belo post!
Querida Amiga!
Adoro tuas analogias - esta está perfeita demais!
Escrevi uma poesia com o nome MALA SEM ALÇA, e corresponde perfeitamente ao fato narrado: no começo é tudo engraçadinho, mas ao decorrer do tempo foge ao controle, e instaura-se o cáos...
Beijos
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