1 de ago. de 2008

Unanimidade

Sabe essa pretensão de agradar a todo mundo? Desista, nunca conseguirá. Conforme-se, eu também não. Melhor que isso: ninguém consegue agradar a gregos e troianos, republicanos e democratas, petistas e tucanos, arianos e leoninos. Sempre alguns detestarão aos mesmos que outros idolatram, faz parte do jogo da vida, onde os papéis inclusive se alternam, e o que ontem era ótimo hoje deixou de ser. Mudamos nós, mudam os outros.

Então, estamos combinados: você não é uma unanimidade, eu não sou e ninguém é. Compreendido isso, fica mais fácil continuar o assunto. Levar a vida, também.
A ânsia de agradar tem tudo a ver com a necessidade de pertencer ao grupo, sentimento desenvolvido na adolescência. Naquela época, nos portávamos como manada, caminhando juntos, no mesmo ritmo, rindo de piadas que nem entendíamos, participando de brincadeiras que reforçavam o desejo de pertencer.

Sentíamo-nos seguros, como parte do grupo, embora às vezes precisássemos fazer esforços que seriam ridículos, se não fossem comoventes, no intuito de garantir o nosso lugar. Como a bola de vôlei que a menina pediu como presente de aniversário, ela que nem apreciava esportes, porque ser dona da bola dava o direito de participação nos jogos, mesmo que o desempenho não fosse lá essas coisas. Ridículo, sei, mas o que não se faz aos treze anos, para ter um grupo?

O perigo é seguir pela vida com a idéia arraigada de agradar a todos. Causa de infelicidade, a cada vez que somos rechaçados. Por isso o espanto, quando algum sujeito vira o rosto,fingindo não nos ver. E a frustração, quando determinado convite não chega.

Mas, piores que a infelicidade ocasional, são as conseqüências da unanimidade forçada. A covardia de não se manifestar de forma contrária, quando muitos tomam um rumo com que não concordamos. Ingerir bebidas alcoólicas, por exemplo, quando não se aprecia; participar de brincadeiras perigosas, fazer discriminações que não combinam com a nossa maneira de ser, só pra não discordar da maioria.

Todo relacionamento exige concessões, de todas as partes. Para conviver, precisamos aprender a abdicar, ceder lugar, algumas vezes morder a língua, pra não externar opiniões que possam magoar ou dificultar a continuação da convivência. Concessões demasiadas, contudo, nos despersonalizam. Cada um precisa descobrir até onde as concessões são válidas e, quando feitas, que males poderão causar. Concordar com a maioria pode ser catastrófico e conduzir a destinos indesejados, como a história do mundo nos conta, em seus muitos enredos.

Recentemente, assistindo a um filme sobre a ascensão de Hitler, justamente o que mais chocou foi o fato de, inicialmente, muitos generais alemães não concordarem com as idéias dele. Baixaram os olhos e se calaram, no entanto, acovardados, quando ainda teriam forças para evitar a tragédia que se seguiu.

Monstros são criados e alimentados por nós. Em casa, no local de trabalho, na política, desenvolvem-se pela nossa omissão, pelo bater palmas ou baixar os olhos, quando desejaríamos fechar a cara e mostrar a contrariedade.

Compreender que não se é uma unanimidade, aceitar o fato – sem revolta ou mágoa - de que alguns nos amarão, outros nos odiarão e alguém apenas nos aceitará, forçado pelas circunstâncias, pode ser uma libertação. Assimilar essa realidade é adquirir o direito de cada um ser o que é, com suas dúvidas e convicções, e a liberdade de defendê-las, com a certeza de que jamais agradarão a todos.

3 comentários:

Anônimo disse...

Para Marta...
Com certeza e dificil agradar a poucos, quanto mais a todos. Impossivel.
Gosto dos seus artigos. Sao racionais, inteligentes e muito simples.
Por que nao expandir um pouco mais esse universo e levar um pouquinho mais adiante artigos que podem fazer muitas pessoas pensar, rir, chorar, emocionar-se, refletir...
Um conterraneo nosso o faz com sucesso. Pego o jornal toda a semana e leio seus artigos muito loucos. Kledir Ramil e seu nome.
O site do jornal e www.brazilianvoice.com
Ate mais...

Anônimo disse...

Marta!

Acredito que o bom é a gente ser o que realmente acredita, utilizando-se de seus valores, adquiridos na infância e aprimorados no decorrer da vida. Agradar a si mesma, ter prazer de, ao se olhar no espelho gostar do que vê. Quem vive querendo agradar ao outro - não está vivendo - está representando!

Beijos

Anônimo disse...

Marta!
Li seu artigo no site Beefpoint e achei muito bem colocado e oportuno.
Gostaria de ver um comentario seu sobre: BOI PIRATA – Hoje, estão confiscando o rebanho de um produtor paraense (é como o estoque de qualquer empresa). Se virar moda, pode ter certeza, amanhã será do produtor mineiro, paulista, goiano, paranaense, gaucho, etc. É como desapropriar uma propriedade rural, que hoje é comum, mas, desapropriar uma propriedade urbana (empresa) não existe. Por enquanto!
SE TODOS PERMANECEREM CALADOS, O CONFISCO DO ESTOQUE DE QUALQUER PRODUTOR SE TORNARÁ UMA PRÁTICA COMUM NO BRASIL, INDEPENDENTEMENTE DO PRODUTO: BOI, SOJA, MILHO, UVA, MAÇÃ, TRATOR, ETC.
Portanto, o problema não é deste produtor em questão, mas sim de todos os produtores.
Flavio Vicente / flavisi@uol.com.br