11 de set. de 2008

Filmes e adolescentes

No filme, a adolescente chorava, julgando-se incompreendida pela mãe. Em certo momento, falou, entre lágrimas: “Você não sabe o que é ser esnobada pelas amigas”. Na verdade, além de aprontarem várias armadilhas para enrascá-la perigosamente e depois lhe virarem as costas, as tais amigas haviam criado um site, especialmente dedicado a ela, onde cada uma tinha a delicadeza de explicar porque a detestava.

Personagem principal da história, a adolescente representa o clássico papel da mocinha ingênua, primeira aluna da classe, aquela que leva as colegas nas costas, boa em equações e fórmulas, esses e erres bem administrados. No enredo sem muita originalidade, ao atrair as atenções do desportista classe A da escola, junto atraiu a inveja das colegas, já com dificuldade de engolir o seu desempenho escolar.

Quando falou “ser esnobada pelas amigas”, quase entrei TV a dentro para perguntar: ”Mas de que amigas você está falando”? Em outras ocasiões, caberiam as perguntas: Mas que família é essa que você quer preservar? Ou emprego, colega, cliente? Quanto da dignidade é válido abdicar, para manter uma situação? Quanto alguém pode baixar a cabeça, para fingir que está enquadrado?

Filmes sobre adolescentes repetem os mesmos dramas de rejeição e esforço para ser aceito pelo grupo. Adultos, torcemos para que a mocinha tenha um clique de lucidez e deixe de ser bobinha e subserviente. Reaja, simplesmente. Quase sempre _ aprende-se bem mais tarde _ isso é tudo o que o grupo precisa para começar a respeitá-la. Mas a verdade é que, quando se entende isso, também já se sabe que esse tipo de grupo não vale o esforço para ser conquistado, nem merece ser preservado. Como a mocinha talvez entendesse, se alguém a colocasse diante desse dilema, amizades só valem a pena quando fluem com naturalidade. É bom duvidar da sua consistência, quando exigem demasiado esforço de uma das partes.

Aliás, a dúvida será bem-vinda em qualquer idade e forma de relacionamento que sobreviva à custa de esforço unilateral. Quando alguém se esfalfa, sozinho, para garantir a continuidade de alguma relação, com facilidade é mal interpretado e visto como trouxa. Um quase nada separa o bom do bobo.

Na família, nos amores, nas relações comerciais devem ser criadas vias de mão dupla, em que atenções e prestação de serviços sejam bem-vindas e retribuídas. Pessoas fragilizadas, carentes, portam-se como a menina dessa história: dependem da aceitação dos outros, para terem o seu valor reconhecido. A coragem de abdicar do que não preenche os requisitos desejados cria a oportunidade de recomeçar, em outras circunstâncias.


Como a adolescente resolveu o seu problema de relacionamento, sinto não poder informar: precisei me desligar da TV, justo no momento em que o clique prometia acontecer. Talvez o diretor tenha forçado a barra, fazendo com que as “amigas” se arrependessem e tudo voltasse às boas. Ou talvez a menina tenha enxergado o mau-caráter e a pequenez das outras e compreendido que dali não sairia nada que prestasse. Quem sabe olhou para os lados e viu dezenas de pessoas interessantes, com quem poderia ser ela mesma, sem estar sujeita a armadilhas e sentimentos negativos. Quem sabe apenas entendeu que o tempo é precioso demais, por isso deve ser aproveitado com quem merece.

Um comentário:

Anônimo disse...

Marta!
Não é novidade de que as pessoas que se sobressaem, por diferentes motivos, qualidades, fazendo "sombra",no próximo tendem a causar um certo desconforto, em quem é inseguro. Quando o Lar proporciona a segurança devida, esses deslizes dos "amigos" não terão a mínima importância.
mil beijos