No canal de TV GNT, o programa INFÂNCIA COM FÉ mostrou diversas crianças, meninos e meninas, fazendo pregação religiosa. Alguns começaram a pregar aos três anos de idade. O menino, investido do poder divino de curar almas, avançou contra a mulher com câncer, gritando para que dela se retirasse o demônio, responsável pela doença, segundo ele. A menina quase ficou sem voz, no intento de convencer aos pecadores do caminho que deviam seguir.
O programa mostrou crianças americanas e brasileiras, cabeças feitas por pais e avós, emocionando auditórios repletos, convictas da missão de salvar almas.
No tom de voz que conseguiu, após se exaurir gritando ameaças aos descrentes, a menina rouca argumentou que, tal como os atores e cantores mirins, ela é uma criança normal. Se pregadores, cantores e atores mirins são crianças iguais às outras, da mesma forma devem precisar de horas diárias de dedicação até alcançar o resultado desejado. Para arrancar lágrimas do público, com certeza também são obrigados a exigir o máximo do seu emocional.
No campo, o homem não sabe o que fazer com a menina de dez anos e o menino de doze, agora que a mulher o deixou. Levá-los para a lavoura, nem pensar. Colher milho, abóboras? Trabalho infantil é proibido, não falta quem denuncie.
Nas ruas, crianças pedem esmolas, observadas à distância pelos pais. Nas sinaleiras, fazem piruetas, esforçando-se para melhorar o desempenho, no intuito de conseguir algumas moedas. Alguém pergunta se estão na escola ou quantas horas ficam ali, entregues à própria sorte?
Como argumento contra o trabalho antes dos dezesseis anos, educadores afirmam que “as crianças tornam-se jovens adultos precocemente, sem desenvolver um lado essencial para a vida futura”. Por isso, jovens robustas de quinze anos não podem ser babás, por exemplo, e assim perdem a oportunidade de carteira assinada e salário ao final do mês.
Milhares de famílias vivem em situação de extrema miséria. Para todas elas, seria benéfico o dinheirinho obtido, caso o menino ou a menina pudessem fazer pequenos biscates, como entregar mercadorias, na fruteira ou armazém, em meio expediente.
Mas leis são criadas, aleatoriamente, com a hipocrisia de defender as crianças, enquanto os olhos se fecham para a realidade exposta na mídia e nas ruas. Acaso não são crianças e não é trabalho árduo o desempenhado pelos pequenos pregadores, atores, cantores e apresentadores de programas infantis? Pelo fato de movimentarem somas milionárias, isso deixa de ser relevante?
Não estarão as outras crianças sendo prejudicadas pelas leis que pretendem beneficiá-las? Não estará na hora de rever o Estatuto da Criança e do adolescente?
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