Numa reportagem sobre a NHT, empresa responsável pelo transporte aéreo entre Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande,chamou a atenção a observação de que a demanda ainda pequena “é problema mais cultural que financeiro”. Quer dizer, a maioria dos usuários preferiria se deslocar via terrestre.
Independente do fato de que, para o trajeto entre Pelotas e a capital, realmente os usuários podem dispor do conforto e excelente atendimento proporcionados pelos ônibus de linha, algumas considerações se fazem necessárias.
Os voos na Zona Sul, interrompidos por largo tempo, reiniciaram em 2006. Nesses dois anos e meio de atividade, segundo a reportagem lida na mídia local, de janeiro a dezembro de 2008 a empresa teve uma demanda 128% superior ao mesmo período de 2007 na linha Pelotas-Porto Alegre.
Graças a essa demanda, foram aumentados os horários de voo, sendo agora três ao dia, com possibilidade de criação do quarto, o que será muito bom. Porque, apesar do alto preço da passagem Porto Alegre-Rio Grande-Pelotas (R$304,00 mais R$19,65 de taxa de embarque), é difícil conseguir lugar, salvo com muita antecedência, nos voos diurnos. Já tentamos em duas oportunidades, com antecipação de uma semana, e não foi possível; bem como experimentamos, chegados ao aeroporto Salgado Filho, adquirir passagem na hora, da mesma forma encontrando o voo lotado.
Isso apesar do inconveniente de não se poder embarcar com bagagem, apenas a mala de mão _ o que torna o transporte direcionado somente para deslocamentos rápidos, inviável como complemento de viagens internacionais, por exemplo. E seria confortável, justamente em longos percursos, a possibilidade de chegar de avião a Pelotas, quando já se vem cansado e com maior bagagem.
A viagem de ida a Porto Alegre, diga-se a bem da verdade, é facilitada pela gentileza da empresa rodoviária, levando até ao aeroporto Salgado Filho os passageiros que vão continuar via aérea.
O transtorno maior é a viagem de volta. Pois, por incrível que pareça, leva-se praticamente o mesmo tempo para vir de São Paulo a Pelotas que para ir de São Paulo a Portugal, considerando 1h de espera no aeroporto, 1h 20’de voo, deslocamento em Porto Alegre até a rodoviária, espera de hora e meia até o ônibus seguinte (chega-se com meia hora de antecedência, em geral o primeiro ônibus está lotado, pega-se o seguinte)e a viagem de três horas e meia até Pelotas. Na melhor das hipóteses, sem atrasos, é esse o tempo.
Por essa razão, em certas circunstâncias, não somente executivos apressados, também passageiros idosos ou em recuperação de cirurgias ou simplesmente pessoas com disponibilidade financeira, se dispõem a pagar o alto preço para usufruírem de uma viagem mais rápida. Esses se encontram com o problema da proibição de bagagem.
É provável que a companhia tenha conhecimento do percentual de passageiros que não está conseguindo atender e, em razão dessa demanda, esteja se preparando para colocar novos horários.
Contudo, para diminuir o valor das passagens e aumentar o conforto proporcionado aos passageiros, seria mais interessante a utilização de uma aeronave maior, com capacidade para transportar as bagagens. Como argumento para não providenciar a benfeitoria, a companhia aérea alega que para isso a demanda ainda é insuficiente, no que deve ter razão. Também é compreensível a relutância da companhia em atender às reivindicações da população, se a procura por passagens tem aumentado, apesar dos inconvenientes.
Só não se pode aceitar a resposta de que a demanda insuficiente é fator cultural, porque não é. Com passagens mais acessíveis e possibilidade de transportar bagagem, rapidamente aumentaria o número de pessoas dispostas a utilizarem a via aérea, desfrutando da belíssima paisagem. Ao preço mais acessível, o percurso entre Porto Alegre, Rio Grande e Pelotas poderia se transformar num rápido e agradável passeio pelos ares.
M
2 comentários:
Ótima crítica, Marta! Vôos mais altos estão presentes em seus textos. Bom tê-la de volta!
Quanto ao conteúdo do texto, excelente! Apenas para ilustrar, vou a Brasília divulgar os meus projetos com o custo Porto Alegre a Brasília de R$219,00 na ida e, na volta R$239,00. Talvez, a nossa companhia de ônibus local, tenha que "alçar vôos mais altos também". Porque não entrar na era do avião, também? Na verdade, nossos empresários estão muito acanhados. Concordo, plenamente, com suas afirmações.
Atenciosamente.
Seria uma maravilha termos uma linha diariamente, entre as duas cidades, sem a preocupação de falta de lugares, pois o trajeto é bastante cansativo, após uma longa viagem.
Ruthe
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