Ter boa condição financeira não é crime, nem pecado. Ao contrario, pode ser muito bom. Usufruir do fruto do próprio trabalho ou do esforço dos antepassados, conservado pelo bom-senso e competência dos descendentes, é mais que bom, é ótimo. Razão para se alegrar e orgulhar, não para envergonhar e esconder. Mérito de quem sabe administrar o que possui.
Condição financeira para proporcionar conforto a si e aos seus, morar numa boa casa, passear, viajar, freqüentar bons restaurantes, ter acesso a cursos de aperfeiçoamento, vestir-se como desejar, frequentar uma academia de ginástica, ter um plano de saúde _ quem não apreciaria isso?
Segurança financeira para gerar empregos com carteira assinada, propiciando melhoria de vida e estabilidade a outros. Capacidade de honrar compromissos, arcar com as despesas. Empatia para com os menos favorecidos, no sentido de entender as suas dificuldades e proporcionar auxílio, atendendo ao justo e ao razoável – é o que se deseja.
Condições essas tão óbvias, que, muitas delas _ como o plano de saúde, a boa casa, a educação _ seriam naturais a todos, caso vivêssemos num mundo ideal. Planos de saúde diferenciados, aliás, nem seriam necessários, se a todos fosse concedido o tratamento merecido. Mas, independente do esforço e da boa vontade de alguns, não é assim que funciona o nosso mundo.
Há pessoas deslumbradas, mania de ostentação, que se endividam para aparentar status e isso é patético. Outros apenas usufruem o que possuem. Quando fazem o dinheiro girar, bom para toda a sociedade. Quantas pessoas encontram trabalho e conseguem alavancar a sua situação financeira, a cada festa badalada. São chefes de cozinha, garçons, cabeleireiros, serviços de decoração e o comércio em geral oxigenado pelo dinheiro que circula.
Mas, nessa tola divisão do mundo entre ricos e pobres, negros e brancos, gremistas e colorados, as próprias circunstâncias obrigam a que se tome consciência do movimento ritmado da roda da vida, alterando posições, no seu incessante girar. Por isso _ aos que, por acaso, estão em cima _ aconselha-se justiça e lealdade, moedas que gostarão de encontrar, caso o mundo vire de cabeça para baixo.
Ao mesmo tempo, é natural que aqueles que estão no topo despertem sentimentos ambivalentes de admiração e inveja. Também é comum que extrapolem em suas funções, querendo abocanhar mais do que a sorte já lhes proporcionou.
Como parece ser o caso de Eliana Tranchesi, dona da DASLU, a casa paulistana símbolo
do alto luxo. Descoberto o esquema milionário de importações ilegais de marcas caras, em que burlou o Fisco em mais de seiscentos milhões de reais, foi condenada a 94 anos e seis meses de prisão.
Sabe-se lá quanto tempo dessa pena _ ou se alguma pena _ ela realmente vai pagar, nesse Brasil conivente com a impunidade, em que esquemas milionários são descobertos, continuamente, logo depois abafados. Em que estupradores e homicidas voltam às ruas e cometem os mesmos crimes. Como cidadãos comuns, só nos cabe assistir ao desenrolar dos acontecimentos.
Mas talvez seja bom nos perguntarmos – só como exercício de conhecimento pessoal _ quanto dessa sanha vingadora tem a ver com os crimes cometidos contra o Fisco e quanto tem a ver com o fato de ser ela a toda poderosa dona da DASLU? Ou podemos ter
esperança de que agora a justiça será enérgica com todos, ocupem o cargo que ocuparem?
2 comentários:
Boa tarde cara escritora, creio que você tenha se equivado ao usar a palavra "tola" no sexto parágrafo do seu artigo "Caça as Bruxas ou novos tempos?". Não creio que desigualdades sociais ou étnicas sejas "tolas" no mundo atual. Na verdade são uma realidade que a todo instante tentamos camuflar.
O ser humano é muito complexo. A maioria erra e mente muito e a coerência, então, nem se fala - a maioria tem duas caras!Mas , para muitos, significa sobrevivência, status, e sem isso, estariam mortos!
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