23 de mai. de 2009

Enem, o grito de alerta

A mídia varia os temas, escolhe um e martela, até todos tomarem conhecimento. No momento, o Enem _ exame nacional para avaliação do ensino médio _ é a bola da vez. Curiosa, pela polêmica despertada, entrei no site www.inep.gov.br para entender melhor o assunto. Fiquei fã de carteirinha, como se dizia, quando freqüentava os bancos escolares.

O Enem é um exame individual, de caráter voluntário até o ano de 2008, oferecido aos alunos que estavam concluindo ou já haviam concluído o ensino médio. Até recentemente, era considerado referência para auto-avaliação dos alunos.

No embalo do bom desempenho demonstrado por algumas escolas, em detrimento do péssimo desempenho de outras, passou a também ser considerado na avaliação das escolas, o que já é forçar a barra. Porque, em razão de o exame ser voluntário, somente alguns alunos de cada escola participavam, sendo que grande parte optou por boicotar. Quem garante que, em determinadas escolas, inclusive para elevar o nome do seu estabelecimento de ensino, não fossem somente os alunos mais destacados a participar? Levantada essa dúvida razoável, parece temerário considerá-lo como avaliador das escolas.

Mas aqui a questão não é essa. Diferente do vestibular, o Enem não valoriza a capacidade de acumular informações, mas incentiva o aprender a pensar, a capacidade de resolver problemas _ esse o seu diferencial.

Criado em 1998, a primeira edição do Enem contou com 116 mil participantes. Mas a popularização definitiva veio em 2004, quando o Ministério da Educação instituiu o programa Universidade para Todos (PROUNI),direcionado a alunos de baixa renda, e vinculou a concessão de bolsas em Instituições Privadas do Ensino Superior (IES) à nota obtida no exame. No ano seguinte, o Enem alcançou 2,2 milhões de participantes. Em 2007, foram quatro milhões de inscrições.

Há três anos, quando começaram a ser divulgados os resultados por escolas, municípios e estados, o Enem atraiu definitivamente a atenção pública, chocada com o baixo desempenho de grande parte das escolas.

No ano de 2009, mais de quinhentas universidades passarão a adotá-lo como passaporte para o ensino superior. As universidades têm autonomia para organizar seus processos seletivos; muitas já substituíram ou estudam substituir o vestibular pelo Enem, parcial ou integralmente.

Considerado política de Estado, apartidária, o Enem já atravessou duas administrações federais, sem sofrer solução de continuidade. É provável que, feitas as correções necessárias, tenha vindo para ficar. Seus maiores méritos são a contribuição para a reforma do currículo do ensino médio e a democratização do acesso ao ensino superior, além de ter despertado a atenção da sociedade para a necessidade de melhoria da qualidade de ensino.

De repente, não foi mais possível ignorar: o ensino brasileiro vai mal, sem sombra de dúvidas. Basta entregar um texto para interpretação e, em resposta, saem os maiores absurdos, escritos com erros que só vendo. E o pior: o ensino médio ficou num limbo, fora de contexto. Não prepara os alunos para o trabalho nem para o curso superior, o que está bem demonstrado pela proliferação de cursos pré-vestibulares. Não admira o alto nível da evasão escolar, nas classes menos favorecidas.

Independente da polêmica sobre a apressada substituição do vestibular pelo Enem, já neste ano, e das implicações acarretadas pela utilização do critério a nível nacional, o Enem serve como grito de alerta. Sofrendo os ajustes necessários, pode ser a esperança do ensino que os jovens brasileiros, de todas as classes sociais, merecem.

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