Muitas pessoas se atrapalham com as noções de publico e privado.
Políticos pisam na linha divisória, com a maior sem-cerimônia, quando exageram nas mordomias concernentes aos seus cargos. Como no caso, já bem falado, das passagens aéreas obsequiadas a parentes. Ou na história (também bem divulgada)do celular, de propriedade do Senado Federal, emprestado pelo senador Tião Viana à filha, em viagem ao México. Caso esses personagens tivessem uma empresa, deixariam seus funcionários emprestar o celular, com conta paga pela firma, para uma viagem internacional ou outra qualquer? A empresa aceitaria financiar viagens das esposas, mães, namoradas, filhos e outros, inclusive para fora do país?
No entanto, com a maior naturalidade, alguns políticos vêm a público defender o “direito” de usar o dinheiro público em benefício próprio e de seus aquerenciados. O Estado, patrão generoso, pode arcar com todos os excessos.
Mas é compreensível que se acreditem em seu direito. Pois, com a mesma naturalidade, o presidente Lula defende a idéia de que tudo continue como está, já que “sempre foi assim”. Indo além, em tom de brincadeira, ameaçou criar o “Dia da Hipocrisia”, porque realmente é desaforo, recém agora, quando senadores e deputados tomaram o gostinho, os contribuintes se darem conta de que eles é que pagam a conta.
Essas são águas passadas, notícias que deixaram de freqüentar as páginas dos jornais. Outras virão, infelizmente, pela cultura assimilada de achar natural usufruir de mordomias, usando os cargos públicos para se servir.
No caso das ONGS _ organizações não governamentais _ quando beneficiadas com verbas públicas, costuma constar dos contratos a obrigatoriedade da prestação de contas de cada centavo recebido. De algumas, pelo menos, isso é rigorosamente exigido. Mesmo quando mantidas somente pela sociedade, é correto que elas se sintam no dever de prestar contas e mostrar serviço. Quando presidente de uma entidade assistencial que atendia (e continua atendendo) crianças pertencentes a famílias de baixa renda, _ entidade mantida, naquela ocasião, unicamente pela boa vontade da diretoria e da comunidade _ a transparência nas finanças era ponto de honra entre nós (como ocorre ainda hoje). Por isso, a Casa Santo Antônio recebe todo o apoio da comunidade.
Mas isso é o público e aí se instala a confusão. No privado, com dinheiro seu, ganho pelo esforço próprio, cada um pode fazer o que quiser e ninguém tem nada com isso. Não roubou de ninguém? Conquistou ou soube conservar? Faça bom uso dele.
Mas, nessa onda de cobrança e críticas motivadas pelo mau uso das verbas públicas, até pessoas bem-intencionadas extrapolam e invadem o espaço alheio.
Particulares, assalariados, empresários em geral podem gastar o seu dinheiro a bel prazer, quando não possuem credores nos seus calcanhares. O vizinho pode fazer festas monumentais, trocar de carro todo o ano, levar a mulher para Paris, emprestar celulares para todos os filhos, comprar um jatinho ou só andar nas largas poltronas da primeira classe, em vôos internacionais. A vizinha pode freqüentar as melhores boutiques, comprar as roupas mais sofisticadas ou não comprar nada, preferir repetir roupas surradas e investir em ações. Problemas deles.
Somente os bens públicos são de domínio público e merecem discussão. No privado, desde que não perturbem o direito de outros, as pessoas podem fazer o que quiserem com o que é seu. Parece simples, mas não deve ser. Público e privado confundem muita gente.
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