Às vezes, com humildade, preciso reconhecer que posso ser muito chata e insistente. Em minha defesa _ não sei se vale para os beneficiados _ posso afirmar que só ajo dessa forma com pessoas por quem tenho muito apreço, e também quando acredito que valha a pena. Em alguns casos, existindo só o apreço, não perco o meu tempo, tão precioso como o de toda a gente.
A chatice e a insistência podem se manifestar das formas mais variadas. A amiga chega, na costumeira visita à cidade, e, no primeiro encontro, se não agrada o corte do cabelo, deixo escapar, antes que lembre de morder a língua: “Gosto mais do teu cabelo curto, naquele corte da última vez”. “Pois eu gosto assim” _ responde ela, de modo desaforado, atitude aceita entre amizades de longa data. Alguns dias depois, como se o assunto não houvesse surgido, aparece de cabelos curtos e é amplamente elogiada. Mas, numa dessas crises de franqueza, ouvi uma resposta pra ser considerada definitiva: “De agora em diante, vamos ficar acertadas, só vais comentar os meus cabelos se eu perguntar a tua opinião”. “Está bem, mereci” _respondi, muito humilde, torcendo para lembrar o combinado. Passados dois dias, lá chega ela, convidada para jantar, e a primeira coisa que noto é o novo penteado, na cor e no corte perfeitos, em minha opinião. Bem mandada como raramente alguém consegue ser, finjo que não reparei a mudança. “O que achaste do meu penteado”? _ pergunta ela. “Lindo” _ respondo, educadamente. Estamos acertadas.
Em outras ocasiões, _ muitas, aliás _ resolvo que alguém tem potencial desaproveitado, que faria grandes progressos ou obteria enorme prazer com determinado curso ou caso adquirisse um computador e aprendesse a utilizá-lo. Lá vou, novamente, na pretensão de, convencendo-o, ajudá-lo da forma como também fui, quando outro alguém teve essa atitude comigo. A pessoa reluta, desconversa, explica por A mais B que não faz o seu feitio, mas a chata aqui não perde ocasião de voltar ao assunto. Até que, certo dia, paro de encher a paciência, convicta de que fui longe demais. Quase sempre, algum tempo depois, recebo a boa notícia de que o computador já foi encomendado ou o amigo está se exercitando na academia ou a amiga está adorando a Oficina de Literatura. Final feliz.
De maneira geral, as pessoas preferem manter a neutralidade. Receiam desagradar, por isso se utilizam de subterfúgios para chegar onde querem. É um jogo complicado, que algumas pessoas não conseguem jogar.
Por meu lado, prefiro que me digam as coisas com todas as letras, de preferência com jeito, sem forçar demais a barra, deixando espaço para ouvir que não penso assim e não seguirei o conselho, na certeza de que pensarei no assunto e é provável que siga o conselho. Respeito as pessoas que se posicionam, principalmente quando de forma educada, em voz moderada, sem paixões. Há interesse pelo outro, quando alguém se expõe, sabendo que pode desagradar.
Mas é bom ir com calma, respeitar as sinalizações que são enviadas. Ou aprender a aceitar de bom grado, quando o outro se vê forçado a colocar limites nos palpites. Nesse caso, segurar a língua e não falar nem elogio. Fazer cara de sonso, “não tô nem aí”, até ouvir a pergunta obrigatória: “E o que acha disso, afinal”? Nessa hora, às vezes a verdade é bem aceita.
Um comentário:
É muito difícil conviver. As pessoas recebem o mesmo sinal, mas o enxergam diferente. Na maioria das vezes, o silêncio é o melhor amigo. Quando nos desgostamos com algo que nos fazem, o mais sábio é pensarmos um pouco, concluindo que a culpa é nossa, pois erramos no conceito que fazíamos, da pessoa ou pessoas, em questão.Como bem diz o ditado, "Falar é prata, calar é ouro".
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