23 de ago. de 2009

Sem-graça

Há alguns anos _ não mais que trinta, talvez _ quando ia a Porto Alegre e via as floriculturas enfeitadas com as mais diversas flores, o meu sentimento era misto de pesar e inferioridade, por acreditar que Pelotas não comportaria tal luxo. Na ocasião, já havia uma ou duas floriculturas na cidade, mas flores eram presenteadas apenas em ocasiões especiais. Rosas, de preferência.

Mais ou menos nessa ocasião, ainda em Porto Alegre, ao visitar uma amiga e ser apresentada ao seu lindo jardim, soube que o projeto paisagístico havia sido feito por uma pessoa especializada no ramo, que ainda por cima se encarregava da manutenção dos canteiros e dos cuidados com a grama, regularmente. Mais uma vez, considerei que Pelotas não teria demanda para tais profissionais, sem imaginar que eles já existiam, e se não eram conhecidos a culpa era dos poucos contratantes, que preferiam fazer segredo, para ter a exclusividade.

Pouco adiante, ouvi contar de festas em que o serviço era todo terceirizado, o jantar chegando pronto, garçons e garçonetes contratados para garantir o perfeito atendimento. Nessa ocasião, em Pelotas, se as donas de casa não pusessem mãos á obra, auxiliadas pelas mães, irmãs e cunhadas, melhor nem pensar em receber.
Primeiro devagar, depois apressadamente, Pelotas se encheu de floriculturas e presentear dessa forma passou a fazer parte do prazer cotidiano. Além disso, muitos jardins foram prestigiados com projetos paisagísticos realizados por excelentes profissionais do ramo.

Antes ou depois, alguém perguntou se Pelotas teria público para uma Pet Shop, contando que em São Paulo os proprietários de cães e gatos costumavam fazer muitos gastos com eles, mandando lavar e pentear, comprando brinquedos para seus animaizinhos de estimação e até jóias. Ingenuamente, respondi que dificilmente esse tipo de loja e serviço teria aceitação na cidade.

Mas, ao mesmo tempo em que essas mudanças ocorriam, as festas também começaram a mudar, passando a ser terceirizadas e em salões e clubes alugados _ o que também não se imaginava que o poder aquisitivo do pelotense suportasse. Hoje, apesar do grande número de espaços para eventos e de serviços de Buffet, a reserva precisa ser feita com meses de antecedência, sob risco de se ficar em falta.

De repente, os pelotenses descobriram que comprar flores, tanto para presentear como para enfeitar suas casas; contratar os serviços de profissionais do ramo para a organização de festas de aniversários, formaturas e casamentos; paisagismo; utilizar os serviços de um personal trainer; proporcionar cuidados extraordinários aos seus cães e gatos, entre outras atividades antes consideradas luxos inacessíveis, eram prazeres que podiam se permitir.

Apesar dessas comprovações, a notícia de qualquer investimento em Pelotas provoca sempre a mesma pergunta: “Será que a cidade comporta”? _ como se a baixa auto-estima não nos deixasse ver o potencial econômico da região.

Assim ocorre com restaurantes, bares, boutiques e lojas especializadas. Alguns realmente não prosperam, por mau atendimento, preços fora da realidade ou falta de vocação dos donos, mas esses são problemas diferentes. Outras vão pra frente, fazem muitos aniversários, por satisfazerem ao gosto exigente do cidadão pelotense _ que vai devagar, mas chega lá.

Enquanto isso, a gente se pergunta por que uma cidade com comércio diferenciado e pujante ainda não possui um Shopping Center, com cinemas, praça de alimentação, atendimento aos domingos? E lembra a piada sem-graça dos dois caranguejos: o primeiro contou que, em sua cidade, era costume colocarem os caranguejos vivos dentro da panela com água fervente, mas os mais espertos se salvavam, porque se apressavam a subir; o outro respondeu que, em Pelotas, isso não aconteceria, porque os de baixo ficariam puxando os de cima, impedindo-os de subir.

2 comentários:

Blog do Simeão disse...

Não acredito que a criação de um novo Shopping aconteça, pois:
* - Tem muitos interessados no contrário (seja por terem muitos pontos alugados e para alugar, seja por terem grandes lojas, etc).
* - Aluguéis/Condomínio e custos de manutenção de um Shopping são uma enorme carga que se soma à excessiva carga tributária.
* - Free Shop fica a menos de 150 Km, com preços convidativos - está se tornando uma opçãp para um passeio semanal.
* - Uma boa parcela da população, especialmente da classe baixa vai ao Krolov, camelódromo e lojas na região central buscando compras a baixo preço.
Talvez aqui aconteça algo como em Punta, onde a Gorlero deixou de ser o point, e aí não tem como dar volta.

Com o acesso de sinais de satélites e filmes via internet estamos vendo a morte das salas de cinema e talvez das videolocadoras.

Aqueles cursos e faculdades caras também estimulam esses serviços via internet, e aí não teremos que ver nossos filhos irem morar em outras cidades por causa dos estudos.

Principalmente para as pessoas de maior poder aquisitivo - cada vez mais estarão reclamando de falta de segurança devido aos sem-terra, sem-teto, sem-moral (nova categoria de muitos políticos) e traficantes. Eles não podem ficar em casa pois necessitam sai para trabalhar e, na hora de abrir o portão eletrônico ou a porta do carro ficam a mercê de assaltantes, muitos deles debaixo de capacetes de motoqueiros.

Os tempos mudam cada vez mais rápido e com eles teremos novos hábitos. Oferta de Serviços e Compras à distância podem decretar a morte dos Shoppings.

Ruthe disse...

Pelotas poderia ter um visual belíssimo, obras maravilhosas, de grande porte, mas com tantos carangueijos de baixo puxando os de cima, impossível SUBIR...