Numa historinha bem conhecida, _que não vou contar em detalhes _ o escorpião pediu ajuda ao sapo para ajudá-lo a atravessar o rio. Após muito desconversar, tentando se escapar da perigosa empreitada, o sapo terminou concordando em levá-lo às costas, vencido pelo argumento de que ambos morreriam, caso o escorpião resolvesse picá-lo, durante o percurso.
Mas não deu outra. Lá no meio do rio, o sapo sentiu a violenta picada. Sem entender o absurdo da situação, ainda teve forças de perguntar: Por quê? _ ao que o escorpião respondeu (imagino que também surpreso com a sua burrice): Não pude resistir à minha natureza.
Mentirosos se pegam mentindo, sem haver razão. Chocólatras precisam comer toda a barra de chocolate. Espirituosos compulsivos perdem o amigo, pra não perder a piada. Caluniadores inventam infâmias, para satisfazer ao seu instinto de atirar inverdades ao vento, mesmo que elas sejam descobertas, logo ali adiante. Só pelo prazer de ver a cara de espanto do outro, a expressão de “Ah, é? Eu não sabia”.
Depois o outro descobre que não era bem assim, houve certo exagero, talvez nem fosse nada daquilo, mas o que importa? O caluniador teve o seu momento de glória. Além do mais, após cada calúnia inventada por um e repetida por outros, já ninguém sabe quanto há de verdade ou exagero no assunto que corre. Reputações ficam abaladas, pela leviandade momentânea.
As histórias crescem, passadas de boca em boca. Ganham novas cores, sofisticam-se. Mais tarde, se ouvidas pelo seu inventor, é possível que já nem sejam reconhecidas.
Quanto há de verdade ou invenção em cada sentença que alguém conta, escreve, publica? Nas notícias que nos são impostas, hoje de um jeito, amanhã de outro, depois com a desculpa de que “não foi bem assim”? Mas o caluniado, aquele a quem foram atribuídos mil defeitos ou falcatruas, dificilmente terá sua imagem recuperada. Porque, como se dizia antigamente, as palavras proferidas são como plumas ao vento.
Referindo-se ao que ouviu de um sábio professor, na aula do Curso de Direito, alguém ensinou: “Numa reunião entre três pessoas, jamais fale alguma coisa que não possa ser repetida diante de um auditório”. Talvez a frase não fosse exatamente essa, mas o sentido era esse, com certeza.
Entre duas pessoas, na intimidade do quarto, do lar, do consultório, é natural que sejam ditas coisas que não possam ser repetidas, em sociedade. Embora hoje se saiba que até nos momentos mais íntimos as pessoas correm perigo de exposição, quando não sabem escolher bem os seus parceiros. Como provam as fotos íntimas expostas na internet e os diários publicados por ex-amantes, ex-funcionários e até filhos de celebridades.
Ao telefone, as pessoas também costumavam se comunicar sem reservas, como se num bate-papo informal. Com a nova moda das escutas telefônicas, o cuidado deve ser redobrado.
Leva-se tempo para conhecer a verdadeira natureza de alguém. Pessoas juram idoneidade, como os políticos nos bate-bocas já corriqueiros, alguns trocando acusações sem mostrar as provas, outros se dizendo ofendidos, mas sem levar o caso adiante, sem exigir retratação ou que as provas sejam apresentadas.
Perplexos e desencantados, assistimos a tudo. Onde a verdade, nas histórias sujas que nos contam todos os dias?
Mas, cuidado! Não só os políticos e famosos correm riscos. Nos caminhos aparentemente tranquilos, no cotidiano sem maiores pretensões, todos _ até os mais humildes _ são perseguidos por olhos e ouvidos invejosos. Que transmitem à boca, levianamente, o seu despeito ou rancor. Só para não fugir à sua natureza.
Um comentário:
Adorei! Minh'alma foi lavada!
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