11 de set. de 2009

Perguntas incômodas

No programa da Ana Maria Braga, a psiquiatra entrevistada falou: “Os maus representam pequeno número, mas o mal impera pela omissão e falta de união dos bons, que não se juntam para desmascará-los”. Naquele momento, ela externava a satisfação por ver que a sua cliente soubera reagir, quando atacada, desmascarando a pessoa que quisera prejudicá-la e tornando pública a malandragem da outra.

Voltamos ao “silêncio dos bons”, portanto, fato que muito me intriga. Por que pessoas idôneas calam, quando vítimas de algum mau-caráter, como se fossem elas as culpadas? Que tipo de educação é essa, em que a discrição passa a ser mais importante que desmascarar o malfeitor, para que não tenha outras oportunidades de repetir o feito? O silêncio omisso e a falta de atitudes punitivas leva a crer que está tudo bem, decerto houve algum engano, quando pessoas que se imaginava com razões para desejar nem se ver ali estão, convivendo aparentemente numa boa. Ponto para o lado errado, com certeza. Se tivesse se comportado mal, a convivência pacífica seria impossível, é o pensamento de quem olha de fora.

Contudo, a classificação das pessoas como boas ou más continua me deixando inconfortável. Quem se responsabiliza por ela? E será que “os maus” se consideram como maus? Ou se acham apenas espertos, ligeiros, quando utilizam quaisquer meios para atingir os seus fins? E será que reconhecem os outros como “bons” ou é mais provável que se refiram a eles como “panacas”, definição de quem tudo consente? Quem sabe se julgam vítimas, mal-interpretados em suas intenções?

Mas leio que pessoas não são “boas” ou “más”, como já desconfiava. Há bons e maus comportamentos, praticados por gente que se sente motivada aos primeiros ou com consentimento para os segundos. Um mau comportamento só perdura e se torna crônico pela aceitação à volta, pelo fechar os olhos, na esperança de que não se repita. Pelo medo de mostrar descontentamento e perder regalias. E fingir que não vê, deixar coisas erradas acontecerem, compactuar, não seria outra forma de mau comportamento, embora praticada pelos que se julgam “bons”?

Por todo lado as situações de abuso se repetem. No meio político, aparecem escancaradas e repetidas, empurradas boca abaixo, com o consentimento dos eleitores, quando elegem repetidamente aqueles de quem conhecem os podres. Mas também se repetem nas famílias, nos escritórios, nas ruas, sempre que os maus comportamentos são premiados ou ignorados. Por isso é válida a pergunta de quanto se deve suportar e por que se suporta?

Em todo lugar, os chamados “maus” fazem o que têm vontade, inclusive se agrupam, para se fortalecer, enquanto os que se consideram bons ficam à margem, escandalizados, aborrecidos, horrorizados, mas inertes. Quando muito, trocando mensagens de denúncia pela internet.

Se os “bons” _ ou de bom comportamento _ realmente são maioria, como acredita a psiquiatra entrevistada no programa de TV, que poder teria essa massa humana, caso resolvesse unir forças. E por que não se une, afinal?

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