Numa escola de Viamão, uma professora ousou educar. O caso foi amplamente divulgado na mídia, desacostumada a tais posicionamentos. Fora do comum, o caso despertou reações diversas, a maioria em apoio à atitude da professora _ o que também é insólito. Foi como se, de repente, numa escola secundária, em Viamão, uma bandeira fosse desfraldada, anunciando novos tempos e costumes.
Segundo o que foi noticiado, com o auxílio da comunidade, professores e alunos realizaram a pintura das salas de aula, num mutirão realizado no feriado de 7 de setembro, após oito meses de esforços para arrecadação do dinheiro para o material, pois só as tintas custaram R$1,8 mil reais. Começaram o trabalho às oito horas da manhã, auxiliados por 40 mórmons, e foram até as dezenove horas. No dia 9, uma das salas apareceu pichada. Descoberto o autor da façanha, após uma semana de averiguações, a professora Maria Denise Bandeira, vice-diretora da escola, obrigou o aluno da sexta série, de 14 anos, a reparar o que fizera e, inclusive, a retocar a pintura de várias salas de aula. Os colegas filmaram e a história vazou, colocada no YouTube.
Anteriormente, ao saber do ocorrido, os pais do menino quiseram saber a versão do filho, que a princípio negou, mas depois assumiu o fato. A mãe foi à escola e declarou que “se ele sujou, tem que limpar”. Contudo, ao ver o vídeo divulgado pelos colegas, considerou que o filho fora submetido a uma humilhação e a professora extrapolara.
Curiosamente, a professora reconhece que talvez tenha se excedido um pouco nas palavras dirigidas ao aluno, embora não se arrependa de tê-lo feito reparar o mal feito, por “pensar no patrimônio público e no bem da instituição escolar”. A diretora da escola, também de forma insólita, apoiou a atitude da professora, afirmando que a escola adotou regras em relação ao vandalismo, há alguns anos, que constam em ata e têm a aprovação dos pais e que não é essa a primeira vez em que um aluno é obrigado a ressarcir a escola do prejuízo causado.
Divulgada a história, o Conselho Tutelar de Viamão julgou seu dever chamar a escola, para saber os detalhes do ocorrido, invocando o Estatuto da criança e do Adolescente. Outros alunos saíram em defesa da professora, colocando uma faixa de apoio à entrada do prédio; mais de uma centena de e-mails de apoio foram recebidos pela escola, vindos de todo o país; o telefone não parou de tocar, com mensagens de apoio. Enquanto isso, os pais optaram por não levar o caso adiante e o menino, após uma semana com vergonha de retornar à escola, voltou às aulas, com direito a acompanhamento psicológico.
A função de educar pertence à família. Quando princípios básicos de cidadania, respeito ao patrimônio público e ao trabalho dos outros não são dados em casa, que bom quando uma professora tem a coragem de assumir esse papel. Melhor, ainda, saber que foi apoiada pela direção da escola, pelos alunos, por outros pais e por cidadãos de todo o país, gente cansada de impunidade, carente de colocação de limites.
Num momento infeliz, a mãe reclamou da professora, por ter chamado o seu filho de “bobo da corte”. Mas roupas e narizes de palhaço deveriam usar todos os alunos, professores e membros da comunidade que dedicaram o feriado para embelezar a escola, se o infrator não fosse penalizado e ridicularizado pelo seu comportamento. Com essa atitude drástica, ao contrário, além do exemplo dado, é bem possível que o mal tenha sido cortado pela raiz e de maiores problemas no futuro tenham sido poupados esse menino e seus pais.
Um comentário:
Estamos cansados de constatar de que a impunidade tem papel de relevância, em diversos acontecimentos-é a famosa inversão de valores!Como mudar? O que podemos fazer?É uma dor, uma vergonha!
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