Por longo tempo, tive uma funcionária que gostava muito de sair à noite, ia a mil bailes e festas, trocava de namorado como quem troca de blusa. Sendo realidade muito diferente da minha, divertia-me ouvindo os seus assuntos, as estapafúrdias histórias de amor, os desenlaces inesperados. Acho que meus conselhos sensatos mal entravam por uma orelha já saíam pela outra; eu, ao contrário, aprendia com ela.
A primeira aprendizagem, que tomei como norma, foi jamais sair à noite _ mesmo quando bem acompanhada _ sem a chave da casa e algum dinheiro na bolsa. “Nunca se sabe o que pode acontecer” _ justificou, na vez em que o namorado do momento desapareceu, no meio da festa, e ela precisou voltar de táxi para casa.
Apesar da dificuldade em gerenciar a vida amorosa, em situações como essa eu admirava o seu bom-senso, de grande utilidade para escapar das armadilhas em que ela mesma se colocava. Agora, lendo os conselhos do psiquiatra Paul Hauck, no livro “Como lidar com pessoas que te deixam maluco”, lembrei da antiga funcionária.
Pois, referindo-se aos meios para se proteger, quando as mulheres convivem com parceiros violentos ou alcoólicos, o psiquiatra aconselha a terem sempre um dinheiro escondido, para a possibilidade de precisarem sair de casa no meio da noite, carregando as crianças, e pelo menos poderem passar uma noite segura num hotel.
Naturalmente que o melhor seria não entrar em tal fria, mas as mulheres têm dificuldade em aceitar que o parceiro não vai mudar. Segundo o psiquiatra, ouça o primeiro e o segundo pedido de perdão, depois fuja correndo, pra resistir à tentação de conceder nova oportunidade, porque a situação tende a se repetir.
Continuando, ele diz o que achei mais interessante. Quero dizer, algo que todos sabemos, mas a gente sempre esquece: “recebemos o comportamento que toleramos”.
Então, as mulheres que sofrem agressões dos companheiros, os chefes que não respeitam os subalternos, os funcionários relapsos _ tudo acontece em função da aceitação? Se a gente disser “Chega!” e ficar firme na decisão, os outros se acomodam? Nem sempre, sei. Algumas vezes, os descontentes ou prejudicados compreendem que o outro não vai mudar e preferem se afastar, frustrando a quem pretendia aborrecê-los. Mas, na maioria das vezes, quando alguém se posiciona com firmeza, o comportamento cessa, porque deixou de ser aceito_ segundo o psiquiatra.
Indo além, até dava pra pensar que ele havia conversado com a minha ex-funcionária, pois, entre outras boas sugestões, aconselhava _ veja só! _ às mulheres que passam trabalho com seus acompanhantes nas festas _ seja por beberem demais ou por paquerarem outras mulheres _ que sempre levem o dinheiro para a volta de táxi.
Na mesma linha de “recebemos o comportamento que toleramos”, não é garantido que ele não repita o comportamento impróprio, mas é a forma de sinalizar que ela não irá mais admiti-lo; continue com outra, se quiser. Gostei. E fiquei imaginando que mudanças ocorreriam, se os incomodados em todas as áreas de repente resolvessem não mais tolerar.
Um comentário:
Tolerar ou não tolerar comportamentos impróprios de homens e mulheres, acredito que vai depender muito do tipo de vida que se leva, se é melhor fazer que não sabe, ou não vê, por inúmeros motivos, ou botar para quebrar e começãr outra vida!
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