9 de dez. de 2009

Comer, Rezar, Amar

Confesso: devolvi o livro à prateleira. Atraída pelo título e pelas referências feitas a ele, comecei a folhear algumas páginas, quando decidi saber algo mais sobre a autora, Elizabeth Gilbert. O quê? Escreveu o livro com 32 anos? Com essa idade, imagina-se capaz de ajudar alguém a descobrir as suas verdades? Porque essa parece ser a idéia, pela frase colocada na capa: “Seja também a heroína de sua própria história”. Por puro preconceito (logo eu, que me acreditava pouco preconceituosa), devolvi o livro à prateleira e escolhi outro.

Mas, quando as coisas devem acontecer, simplesmente acontecem. Assim, passado certo tempo, quem encontro novamente, ao circular por uma livraria? Comer, Rezar, Amar, naturalmente. Num momento mais condescendente, pensei: “Vá lá, esse livro é tão comentado; quem sabe consigo lê-lo”? Pensei assim, com pouco caso, mas levei o livro pra casa. E esqueci na mesa de cabeceira, entre outros considerados mais interessantes.

Contudo, num dia qualquer, decidi: é agora ou nunca, vou me despachar desse chato. Comecei a ler e não queria parar, chata seria a pessoa que me interrompesse. Não é que a Liz (agora somos íntimas) tinha mesmo muito a contar? Através da sua experiência, com bom humor e extrema humildade, ela vai contando a sua história, escancarando a intimidade, os medos, as perplexidades e as descobertas. Pela forma de se expor, consegue que a gente se veja em tais situações e pense como agiria, nesse ou naquele caso. Consegue o que imagino seja o sonho de todo escritor: colocar o leitor dentro do livro, interagindo.

A certa altura, pergunta: “Como negociar, depois que já se ofereceu tudo”? E conta que, nas tratativas sobre o divórcio, a culpa a impedia de pensar que pudesse ficar com “sequer um centavo do que havia ganho na última década”. A resposta do amigo: “a culpa é só a forma que o seu ego encontrou para fazê-la acreditar que está fazendo algum progresso moral”. Em outro ponto, diz: ”inventamos os personagens dos nossos parceiros e depois ficamos arrasados, quando eles se recusam a desempenhar o papel que criamos”. Mais adiante: “como os sobreviventes de relacionamentos terminados conseguem suportar a dor dos assuntos mal resolvidos”? Na continuação, cita o conselho ouvido, quando mais uma vez se lamuriou: “não transforme a sua vida num monumento a ninguém”. Nada que ela diz é novidade, mas tudo bate e fica repicando, sei lá porquê.

O livro é tão bem escrito, com imagens tão lindas, que mesmo uma pessoa completamente diferente da Liz _ como eu, no caso _ consegue entendê-la, aceitá-la e torcer por ela. Não que isso vá fazer qualquer diferença. Elizabeth Gilbert, com seus milhões de livros vendidos, é provável que esteja se lixando para qualquer preconceito que alguém possa ter em relação ao seu trabalho ou à sua pessoa.

Preconceito, já explica a palavra, é um conceito firmado, sem que precise razão. Cultivado, transforma-se em sentimento de antagonismo. Em razão dele, alguém deixa de ler o livro que poderia lhe proporcionar horas agradáveis. Ou se fecha para a convivência com outro, sem querer conhecer a pessoa atrás da imagem. Ou lhe atribui mil defeitos, na falsa expectativa de diminuir o seu brilho. Independente das artimanhas utilizadas para atingir o seu alvo e do mal que algumas vezes possa causar, todo preconceito tem a característica peculiar de diminuir principalmente a quem escolhe acalentá-lo.

Um comentário:

Ruthe disse...

Queiramos ou não, estamos rodeados de "preconceitos".Fazemos força, para afastá-los de nós, mas não é nada fácil.Quem consegue,parabenizo!