29 de mar. de 2010

SENSO DE OPORTUNIDADE

Com o grupo da Associação Rural de Pelotas, fui conhecer a Expodireto Cotrijal de Não-Me-Toque, em sua décima primeira edição. A feira mostrou a última tecnologia em várias áreas de interesse da gente do campo, como já foi amplamente divulgado, em muitos meios de comunicação. Aparentemente, nada mais haveria a falar, após tantos comentários elogiosos.

Contudo, cada um enxerga as coisas pelo ângulo que lhe chama a atenção. E, em tudo o que tive oportunidade de observar, o que mais me encantou foi o senso de oportunidade daquele povo. Qualidade invejável; coisa para se copiar, sem o menor pudor.

Começa pelo costume de aproveitar todo pedacinho de terra. Há soja plantada à beira da estrada, por quase todo o percurso. Interessante que, por não haver criação de gado, não há cercas delimitando as propriedades, o que possibilita o avanço da plantação até o acostamento. Mas, da mesma forma, a soja ocupa os terrenos baldios e cresce, inclusive, em torno do cemitério.

Na feira, tudo é simples, sem qualquer luxo, embora seja óbvia a preocupação com detalhes. Dentro, há muitas flores e áreas demonstrativas de culturas de girassóis, sorgo e milho; à volta, bosques, açudes paisagísticos e grandes áreas plantadas, com a soja em diferentes estágios e colorações. As avenidas são retas, floridas e limpas; os estandes são gramados e todos patrocinados. Há muitos banheiros, bem atendidos e limpos. Há bebedouros por todo lado, com copos descartáveis e lixeiras apropriadas para copos, tudo patrocinado. Os restaurantes funcionam com senhas para a refeição e o refrigerante; atendem um público enorme, mas o sistema de buffet é agilizado, nada estressante.

No parque de máquinas de última geração, algumas chamam a atenção pela apresentação inusitada. A colheitadeira, por exemplo, é apresentada separadamente do motor e do “miolo”, assim considerada a parte que debulha os grãos. As cabines independentes, dispostas sobre o gramado, são apropriadas para adaptação aos tratores de modelos antigos, que não possuíam cabines fechadas.

A Expodireto é uma quebra de paradigmas. A entrada é livre, inclusive o estacionamento. Sendo voltada exclusivamente para negócios, obedece ao horário comercial: das oito às 18h. Em lugar de shows artísticos, oferece cursos rápidos de interesse dos homens e mulheres do campo.

A COTRIJAL, cooperativa responsável pela Expodireto, abrange 14 municípios. Nesse ponto, mais que em qualquer outro, a feira é admirável. Ou talvez seja essa a razão do seu sucesso. Pois, ao contrário da maioria das cidades vizinhas, onde às vezes se tem a impressão de que uns torcem pelo fracasso dos outros, lá as pessoas se mobilizam em conjunto.

Todos os hotéis das cidade próximas lotam, durante a semana da Expodireto. Pernoitamos em Passo Fundo, onde se sentia o clima de festa da região, todos orgulhosos pelo evento localizado no município vizinho.

Mas o maior senso de oportunidade foi demonstrado pelos habitantes de Victor Graeff. Saímos da Expodireto às 18h, quando encerrou o horário. Naturalmente, encontramos trânsito lento na estrada, automóveis e ônibus em fila indiana e ritmo cauteloso. Alguém dentro do ônibus sugeriu: _ E se parássemos 20 minutos em Victor Graeff, onde acontece a Festa do Chopp com Cuca e Lingüiça? _ Nunca vi pessoas exaustas se recuperarem tão rápido. Mal o ônibus estacionou, saímos todos em passo acelerado à procura da festa. Havia uma multidão no pátio da igreja, onde uma banda alemã tocava alegremente, enquanto o chopp e um pratinho cheio de fatias de cuca e lingüiça fatiada eram vendidos com presteza. Conforme encontrávamos o resto do grupo, tínhamos que rir de nós mesmos, alegres como guris no primeiro dia das férias. E elogiar o senso de integração daquele povo, fazendo festa em plena semana da Expodireto, justamente no horário em que a feira fechava e os visitantes, decerto com fome, iriam encontrar a estrada cheia. Admirável, aquela gente.

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