3 de mai. de 2010

Nesse ritmo de estresse

A mídia nos massacra com novas inquietações, de tempos em tempos. Muda o foco, conforme o assunto se esgota e o tema deixa de causar o impacto desejado. Ora são as diversas CPIs, desnudando a corrupção que se abriga em todos os setores da vida nacional, ora é o caos aéreo, aeroportos lotados, desastres ocasionados por irresponsabilidades; ora a violência doméstica, ora terremotos, enchentes, secas e tsunamis. Sem falar em todos os outros dramas, lembrados vez por outra, para que não percamos o treino de viver em constante angústia. Ou as tragédias imensas, ocupando notas mínimas, porque os holofotes foram dirigidos para novos temas.

Sem direito a um período de descanso, vivemos em constante sobressalto. Pulamos de uma tragédia para a outra, mal resolvidos todos os assuntos, alguns postos de lado apenas pelo aparecimento de outro mais interessante. Sequer resta o consolo de pensar que o nosso interesse, em muitos casos a dor experimentada, ao tomar conhecimento de tantas tragédias, serviu para alguma coisa.

A mídia cumpre o seu papel de informar e, tendo que sobreviver, experimenta fazê-lo da forma mais chamativa possível, explorando ao limite as emoções do público. Mas cada um de nós, ao seu modo, precisa se defender. É outro o nosso papel, se desejamos sobreviver. Nesse ritmo de estresse, não há coração que agüente, nem quem se segure para não afundar em depressão profunda. São mais problemas e tragédias do que podemos suportar. Isso sem falar nas cenas que presenciamos, diariamente: crianças e cães vadios dormindo sob os mesmos cobertores imundos, sono embalado pelas drogas, ou as mãos estendidas, pedindo moedas, a pretexto de matar a fome.

Homens e mulheres maltrapilhos, atirados nas calçadas, em sono profundo, sob o sal causticante ou no frio rigoroso, enquanto os pedestres circulam ao redor, tentando fazer de conta que isso não acontece, diante dos seus olhos. Ou, pior, começando a achar que é assim mesmo, não há o que fazer.

Contudo, enquanto inúmeras situações fogem à responsabilidade do cidadão comum, porque esbarram em leis e em direitos garantidos a pessoas sem condições de exercê-los, outras são da nossa alçada. Algumas vezes, o simples ato de fazer pressão para mudar determinada situação já estabelecida ou prestes a se estabelecer pode fazer toda a diferença.

Ao redor de cada um de nós, há um mundo pelo qual somos responsáveis, queiramos ou não. Cumprir com os deveres básicos é o primeiro passo. Honrar os compromissos, proporcionar boas condições de trabalho a quem nos auxilia, valorizar o serviço bem feito. Também apontar os erros, não aceitar menos do que o outro é capaz de produzir, discordar quando necessário, são responsabilidades de quem deseja o melhor. Mas, levados a sério todos esses compromissos, a gente precisa se dar uma trégua e curtir as coisas boas da vida. Temos direito, sim _ apesar de todos os males que convulsionam o mundo _ a achar graça em coisas que outros acham tolas, dar boas risadas, passear e viajar, comprar o que nos apetecer, desde que não falte para o essencial. Temos direito a amar e fazer amor e continuar achando isso muito bom, apesar de tanta gente que prefere esbravejar e se matar, por questões que nos parecem ultrapassadas. Temos direito a criar novas vidas, preparando-as para que sejam solidárias e participantes. Temos direito a ser felizes, mesmo que seja por instantes. E tudo isso sem culpa, pois não nos compete carregar nas costas todas as dores do mundo.

Um comentário:

Ruthe disse...

É importante estarmos à par de tudo que nos rodeia, mas tem dias que as notícias deprimem por demais, parece até que escorre sangue pela televisão e quando ouvimos a frase famosa, no fim do Jornal:"Tenham uma ótima noite", parece piada!
Beijos