9 de jun. de 2010

Na penumbra

Entre o sono e o despertar, há um instante em que a mente tenta achar o caminho, como quem percorre o quarto na penumbra, tateando o contorno dos móveis. Se a última mensagem recebida veio de um sonho delicioso e inacabado, a mente luta para permanecer na modorra, prolongando o prazer. Se um pesadelo provocou a volta à realidade, a mente busca se encher de outras imagens, para afastar os demônios que ainda a angustiam.

Desperta, busca entender. Sonhos bons tanto podem significar que está tudo bem, a vida corre em doce calmaria, como que há anseios não atendidos e uma fada boa resolveu nos compensar, pelo menos durante o sono, quando todas as censuras estavam de folga. Da mesma forma, pesadelos tanto podem significar que alguma coisa nos incomoda ou se encaminha para um mau epílogo (embora conscientemente não queiramos admiti-lo), como que não foi boa idéia aquela ingestão de carne de porco e feijão, sem uma boa caminhada para contrabalançar.

Essas conclusões simplistas, capazes de causar arrepios a qualquer psicólogo ou profissional da área (é obvio que há muito mais, escondido em cada sonho ou pesadelo, o que justifica o trabalho do profissional)são as que perduram, quando o sono se vai por completo.Permitimo-nos ficar na cama, mais um pouquinho, o suficiente para aprofundar o sentido do sonho e das emoções que o acompanharam. Mais que o sonho, talvez, falam de nós as emoções. Por que aquele pesadelo incomodou tanto? Por que a sensação desagradável permaneceu, após acordados?

Vivemos meio aos trambolhões, mais sendo levados pelos acontecimentos que tendo o controle deles. Primeiras impressões são soterradas, ignoradas as luzes de alerta, porque precisamos sair correndo para atender a outra emergência. Prestigiamos o imediato, as novas solicitações, em detrimento do interno. A mente se faz presente, quando baixamos a guarda, e envia seus sinais. Se nos fazemos de desentendidos, às vezes ela apela para medidas mais drásticas, ataca fisicamente, para nos obrigar a encarar os problemas que perturbam, embora não plenamente detectados.

Importam mais as emoções que o próprio acontecimento, mais a nossa reação que o feito do outro. Ele pode fazer o que quiser, agir do modo que lhe apetecer. Alegrar-nos ou aborrecer-nos com as atitudes alheias só depende de nós. Compactuar ou sair de fininho, ignorar ou partir para a briga são escolhas à disposição. Gostoso, não? O controle é nosso. Por isso que, às vezes, quando alguém trapaceia, a gente resolve o caso e nem se irrita: aprendeu a lição, não vai mais negociar com ele, mas a situação não vale sequer a azia. Em outras ocasiões, quando estamos enfraquecidos ou carentes, a situação se prolonga, incrementada pelas intervenções de terceiros. As emoções afloram, descontroladas, e passam a ser mais importantes que os fatos em si.Enfraquecidos, passamos o controle a elas e, de certa maneira, aos outros.

Por isso, é bom esmiuçar a mensagem recebida durante o sono. Pode não representar nada, mas, se nos incomodou ou alegrou demais, as emoções desencadeadas possuem o seu próprio significado. Pode ser a fada boa nos recompensando ou o sexto sentido que, ignorado, serve-se desse recurso para nos alertar.

2 comentários:

Ruthe disse...

Sempre dei muita importância aos sonhos. Quase sempre consigo desvendá-los, mas às vezes, são impossíveis de relacioná-los com minha existência! Mas é sempre bom ficarmos atentos!

Beijos

Anônimo disse...

MARAVILHA COMO SEMPRE AMIGA
GUARDEI O QUE ESCREVESTE: AS EMOÇÕES AFLORAM DESCONTROLADAS.....
cREIO QUE A VIDA NOS TENTA FAZER ESQUECER UM POUCO DA REALIDADE AS VEZES DURA, E AS EMOÇÕES NOS AJUDAM A PERFUMAR OS CAMINHOS MAIS ASPEROS.
CARINHOS
maria de lourdes