Não sou do tempo em que, nas escolas, eram permitidos os castigos corporais, mas ainda peguei o castigo no canto da sala de aula, o aluno virado para a parede. Esse tipo de exposição, que para um aluno tímido decerto significaria o cúmulo da humilhação, para aqueles atingidos se transformava em brincadeira. O professor virava as costas e o castigado fazia palhaçadas para a turma, despertando risos e colocando o professor em ridículo. Alunos tímidos, em geral, não sofriam esse tipo de castigo, porque não desafiavam o professor, deixando-o sem outra saída que aplicar a correção permitida.
Uma única vez, fui para “o cantinho”, não lembro por qual motivo, mas com certeza não por desrespeito ao professor. Se essa tivesse sido a razão, em casa é que eu me veria mal, pois tal comportamento seria inadmissível para os meus pais. Ficar “no cantinho” não me causou o menor trauma, tanto que nem lembro quem me enviou para lá. Mas lembro de professoras que me trataram com animosidade, ainda que sem me tocar um dedo, e sem que houvesse justificativa.
Quando criança, apanhei algumas palmadas, não muitas. Também apanhei com um chinelo de couro, que mamãe colocava na prateleira debaixo do carrinho auxiliar, à hora das refeições, quando papai não estava, pois em sua ausência costumávamos aprontar. Tenho certeza de que as palmadas e as chineladas foram merecidas. Sei, também, que doeram mais nela que em mim.
Mais tarde, na condição de mãe, algumas vezes, poucas, senti que uma palmada era pedida. Por incrível que pareça, crianças parecem pedir palmadas, às vezes. Pedem limites, na verdade. Alguém que as ame o suficiente para dar um basta ao comportamento abusivo, agressivo ou teimoso. Alguém que as prepare para a vida e para o convívio harmonioso.
Crianças infringem as normas, para saber até onde podem ir. Para algumas, uma cara feia, um “não” em voz enérgica, o ar triste da mãe bastam como limites. Outras esticam a corda ao extremo, para descobrir o pior que lhes pode acontecer.
Algumas são dóceis, por natureza _ o que não sei se é bom, embora seja cômodo para pais e professores _ e nelas uma palmada seria uma injustiça. Da mesma forma que, nessas, uma exposição arbitrária, uma humilhação em público configuraria um crime.
Como se vê, crianças, como as pessoas de maneira geral, são diferentes, por isso cada uma merece ser tratado de acordo com a sua personalidade. Cabe aos pais educar, além de amar. Há exceções, naturalmente, gente que maltrata os filhos, da mesma forma que há filhos que maltratam os pais, talvez por terem crescido sem que lhes fossem apresentados limites. Mas já existem leis e punições para todos que se excedem, ainda que nem sempre elas sejam observadas, por negligências várias.
Agora, um projeto de lei proíbe os pais de aplicarem aos filhos qualquer tipo de castigos corporais. Igualar todos os tipos de corretivos pode ser muito perigoso. Quando os professores se tornaram completamente desautorizados, pela proibição de punirem os alunos, em quaisquer circunstâncias, a escola perdeu sua função educadora e alguns alunos se entenderam no direito de agredir os mestres. Fico imaginando o que poderá acontecer, quando crianças das mais variadas personalidades descobrirem que os pais foram considerados incapazes de educar seus filhos do modo que julgarem certo.
Um comentário:
Marta
Sempre estás escolhendo bons temas.
Trata-se de uma re-edição do mesmo filme: como educar as crianças. A primeira, assistimos quando éramos pais, e agora a reprise quando estamos no papel de avós, que significa que SOMOS PAIS DUAS VEZES. O amos continua sendo o maestro das nossas atitudes, mas algumas vezes temos que apelar para o bom senso.
Quando contei para minhas netas que, no tempo dos meus avós, usava-se bater com uma palmatória ou com uma régua, e pior ainda, tinha o castigo do AJOELHAR-SE EM MILHO. Imaginem a cara de incredulidade delas, pois isso já se trata de algo de tortura medieval... e até eu me recuso a acreditar.
Eu tinha um amigo do Arroio Grande, o Valmóreo, que me contou que havia comprado uma coleção de livros sobre como educar e criar os filhos com 11 volumes, mas o que ele mais usava era um chicote que ele sempre tinha, pendurado atrás da porta.
Só educação com amor funciona bem, mas sempre lembro aquelas palavras que o Dr Carlos Gonçalves da Silva (em Jaguarão - pai do Ricardo, do Clovis e da Liginha) me disse uma vez: é importante ENSINAR O LIMITE. Fazer com que eles compreendam até onde podem ir e até onde se pode negociar, pois isso também é uma lição de vida que se usa como pais, e que nos ensina a agir como filhos e como empresários.
Abs - Simeão
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