10 de set. de 2010

Os ônibus param?

A senhora, já em idade avançada, falou, com a maior naturalidade: “Tive que desistir da fisioterapia, porque era longe para vir de táxi, saía muito caro, e os ônibus não param, quando só um velho está no ponto. Experimentei vir a pé, mas fiquei muito cansada”. Fiquei olhando para ela, sem acreditar no que ouvia. “Os ônibus não param?” _ perguntei. “Fingem que não vêem a gente, parada no ponto” – explicou, com a serenidade de quem se acostumou à situação. Com o conformismo de quem já não pode fazer nada para mudar as coisas.

Doeu o seu conformismo, a desesperança de desistir dos seus projetos, a impossibilidade de cuidar da saúde, por só ser considerada, na parada de ônibus, se passageiros pagantes forem embarcar. Imaginei se seriam todos os ônibus ou se alguns motoristas tomariam a iniciativa, por sua conta. Desejei que alguma autoridade ouvisse essa queixa conformada e tomasse a si a tarefa de descobrir a verdade, utilizando velhos e velhas, sozinhos, à espera do ônibus que deveria conduzi-los ao seu destino. Seria uma pesquisa bem interessante, a única forma de fazer funcionar a lei que proporciona transporte coletivo grátis aos idosos. Porque, se a lei não precisa ser obedecida, se sequer é controlada, para quê foi criada?

Causa bom efeito, quando alguém do legislativo inventa uma nova lei. Que homem ou mulher preocupado com os outros, pensam os eleitores. Lembrou-se dos velhos, das crianças, de todos os desprotegidos. Só que ter uma idéia bonita, assinar um papel significa muito pouco. Lei que não funciona, na prática, transforma-se em palhaçada ou em grata surpresa, quando por acaso alguém a põe em prática. Isso sem ir mais fundo na questão e sem considerar a justiça ou injustiça de cada lei. Estariam as empresas de ônibus de acordo com a lei que possibilita aos idosos não pagarem a passagem de ônibus? E, para os velhos, necessitados de utilizar um coletivo, há vantagem em não pagar, quando são ignorados nos pontos de ônibus?

A lei da obrigatoriedade de cadeirinhas para transportar crianças em segurança, no automóvel, entrou em vigor. O casal que possuir três filhos pode ir desistindo de passear em família; tornou-se inviável. Mas, outro dia, vi um jovem casal se locomovendo de bicicleta, um bebê espremido entre os dois. Fiquei pensando: isso pode? Será que uma boa campanha de conscientização não causaria melhor efeito? E cada um fizesse o que achasse melhor, sem a interferência do Estado.

Agora, num extremo de preocupação com a saúde emocional dos filhos, o presidente Lula sancionou uma lei em que deverá ser punido o cônjuge que falar mal do outro para o filho. Aquela história de chamar ex-mulher de “cobra” e ex-marido de “ordinário”, perante o filho, acabou _ agora é lei. Muito bonitinho isso, aliás, mas quem vai cuidar que essa lei seja cumprida? O próprio filho terá que denunciar o pai, se falar mal da mãe? E isso irá fazer bem às famílias? Não seria mais interessante, se a preocupação fosse real, proporcionar campanhas de educação, noções de ética e de respeito ao outro, mesmo quando ele deixou de nos amar e tomou outro rumo?

Precisamos de menos leis e mais atenção às já existentes. Precisamos urgente de mais respeito para com os velhos, as crianças e todos que cruzarem o nosso caminho. Mas talvez tudo se reduza a uma palavra simples: precisamos urgente de educação.

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