21 de nov. de 2010

Água na boca

Há um momento, no livro “Os Espiões”, de Luis Fernando Verissimo, em que o personagem principal se refere a outro pelo apelido, pretendendo demonstrar familiaridade:

_ “Ouvi dizer que o Maisena está arrebentando” _ falou.

_ “Maisena? O senhor quer dizer Mandioca” _ corrigiu o interlocutor.

Achei graça, ao encontrar essa pretensa confusão, no livro do Verissimo. Se fosse eu, talvez o chamasse de “Amido de Milho”, tanto me esforcei, inicialmente, na organização do livro Pelotas à Mesa, para transformar em “amido de milho” todas as referencias a Maizena (com z) encontradas nas receitas das diferentes pessoas. Depois, alertada, numa rápida ida ao dicionário, optei por trocar Maizena (com z), a marca registrada, simplesmente por maisena, designação de qualquer farinha de amido de milho. Quero dizer, sem pretender fazer propaganda explícita da Maizena (com z), também não gostaria de confundir alguma quituteira desavisada: “Que novidade é essa de engrossar o mingau com amido de milho? Será que posso engrossar com Maizena, simplesmente?” Assim, entre Maizena e maisena, tudo fica mais fácil.

Eu nem desconfiava, mas com a Maizena (com z) começava um longo período de pesquisa em cada receita, à procura de referencias a marcas registradas que acaso houvessem escapado, justamente pela familiaridade que se desenvolve com elas. Por questão de coerência, foi preciso encontrar a denominação adequada aos fermentos Royal e Fleischmann e até para o achocolatado Nescau, embora a troca, em muitos casos, não parecesse justa. Certas receitas perdem suas características, ao serem trocadas as marcas dos ingredientes. Mas, não se tratando de livro patrocinado por alguma marca específica, mandava o bom tom que a escolha ficasse por conta da consumidora.

Como esse, outros problemas inesperados se apresentaram, no desenvolvimento da organização do livro. Sendo as receitas selecionadas por várias pessoas, era natural que apresentassem diferentes formas de expressão. Após inúmeras revisões, o “pires cheio de açúcar” despertou a atenção, no meio de uma torta meticulosamente explicada, obrigando a uma consulta: “Por favor, o teu pires corresponde a quantas gramas?” _ e lá foi a amiga medir o pires, decerto sem entender tanta ignorância, acostumada como estava à receita.

Como essa, muitas dúvidas surgiram e foram resolvidas, embora seja possível que algumas tenham escapado. Mas o importante é que as pessoas estão experimentando as receitas e _ maravilha das maravilhas _ tendo bons resultados.

Nem sempre se acerta uma receita da primeira vez. Por isso, admirei a persistência de outra amiga, quando telefonou para contar que não acertava o ponto da calda, no pudim de queijo. Já havia preparado duas caldas e as duas tinham açucarado, falou, desconsolada. Enquanto tentava lhe explicar o ponto, ouvi: “e olha que mexi bastante, não parei de mexer”. Bingo! “Então, o erro foi meu, falei, consternada, devia ter explicado que não se mexe a calda”. Mas, disposta, ela preparou a terceira calda e enviou a foto do pudim de queijo, pelo celular. Não sei se para agradar ou para me deixar com água na boca.

Um comentário:

Blog do Simeão disse...

Marta
Aquela balança digital italiana que pesa até 5 Kg eesolveria muitos problemas.
Medir por chícara, copo, colher é como dizem 1 Km mais ou menos.
Até nas medidas de terraplanagem necessita-se controlar a densidade, o teor de umidade, etc.
E na hora de cozinhar tem a temperatura (fogo forte ou fraco) além do tempo.
E quando se muda de um fogão a gás para o de lenha, mais complicações.
Há pessoas que sentem essas diferenças e ajustam tudo conforme o necessário... e a ôlha.