O homem observa, com ar desanimado, o painel de aviso da companhia aérea. O painel anuncia embarque para New York, no portão 4, dentro de alguns minutos. O homem fala que espera não ocorram mais mudanças, pois já houve troca do portão de embarque, precisou se locomover às pressas e não pode caminhar rápido, por causa da dor na perna.
De repente, sem prévio aviso, o painel muda de New York para Chicago. O alto-falante transmite explicações ininteligíveis, em altos brados. Os passageiros se agitam, sem entender. Dirigem-se aos atendentes, junto ao balcão. Eles também parecem desnorteados, correndo de um lado a outro, incapazes de fornecer as informações requisitadas pelos passageiros, esses temerosos de precisarem se deslocar às pressas para algum portão longínquo. No painel geral, constam New Iork e Chicago com embarque no mesmo horário, no mesmo portão. O alvoroço aumenta, pela falta de informações . Impossível entender o alto-falante, completamente rouco.
O homem, que aparenta cerca de 80 anos, conta que viveu 18 anos no Brasil, trabalhando como missionário. Gosta muito do país, onde fez grandes amigos, por isso volta há 11 anos, anualmente, para revê-los. “Mas o Brasil não muda _ constata, pesaroso, em português com sotaque carregado _ é sempre a mesma desorganização. Nos aeroportos, então, nem se fala. Imagine como será, próximo ao Natal”.
Preciso concordar, lembrando as inúmeras vezes em que fomos mudados de um portão para outro, nessa e em outras oportunidades, em cenas que se tornaram hilárias, tamanha a desorganização. Inclusive porque, nos aeroportos de outros países, isso não costuma acontecer. Se em outros não acontece, por que precisa ocorrer no Brasil? E que imagem inicial ou na despedida levam os estrangeiros de um país que não consegue organizar um aeroporto importante como o de Guarulhos?
Como, por coincidência, o nosso voo para outro destino está previsto também para o portão 4 (inicialmente, era o 12, depois fomos transferidos para o portão 11 e agora para o 4, que tanto pode ser A como B ou C), optamos por nos afastar dessa confusão e esperar em local mais tranquilo as resoluções que devem ocorrer. Sentamos em local estratégico, em frente a um painel geral. O aeroporto está cheio, inclusive muitos casais com crianças pequenas e famílias inteiras.
Agora o alto-falante estragou de vez e vários membros do pessoal de terra circulam de um lado a outro, em passo acelerado, quase correndo. Informam, aos gritos, o próximo embarque e o portão em que será realizado; alguns repetem sem cessar os nomes dos passageiros chamados a embarcar imediatamente. Imagino o que pensarão os estrangeiros, desacostumados a essa insegurança. Impossível não pensar na Copa do Mundo, na imagem de país turístico que o Brasil pretende transmitir ao mundo. Se, para nós, brasileiros, já está difícil suportar a insegurança generalizada e o caos dos aeroportos, em dias normais, o que sentirão eles, ao conhecerem a nossa realidade? Se os aeroportos já estão cheios, como poderão receber o público esperado?
Em meio à confusão, terminamos por embarcar com uma hora de atraso, após três trocas do portão de embarque, precisando utilizar um ônibus para chegar ao avião. O voo é agradável e organizado. A chegada ao aeroporto de Milão ocorre na maior serenidade, fazendo crer que receber e despachar aviões lotados, em segurança e sem percalços, possa ser tarefa comum, em alguns aeroportos.
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