16 de nov. de 2010

Na Feira do Livro


Na Feira do Livro, ao lado de escritores prestigiadíssimos, sempre vejo um ou outro sozinho ou acompanhado da esposa ou de algum amigo leal. Solidarizo-me com eles, mas não se perde pedaço por viver tal experiência.

Com o seu conhecimento de situações similares, o editor aconselhou que, não sendo de Porto Alegre, eu devia escolher: se fizesse lançamento anterior, desistisse da sessão de autógrafos na Feira do Livro da capital. Seria natural que faltassem participantes para os dois eventos, ponderou, com bom-senso. Teimosa, fiz o lançamento e resolvi me aventurar na Feira, pois já vivera essa experiência, em situação anterior, de forma agradável.



Aconteceu, porém, que naquele ano o palco onde costumam ocorrer os autógrafos sofrera modificações. Sendo em grande número os escritores no horário a mim designado, todos foram colocados lado a lado, meio comprimidos, cada um com direito a uma pequena mesa e sem espaço para familiares e amigos que quisessem confraternizar à volta. O espaço era restrito apenas a quem desejasse autógrafo.

Alguns amigos e amigos de amigos tiveram a gentileza de comparecer, mas precisavam se afastar, após conseguir o autógrafo, indo todos se reunir em alegre bate-papo, fora do palco, tal a quantidade de gente nas filas. Ao meu lado, estava o Dr Luchese, autografando sem parar. Muito gentil, entre um admirador e outro, ele conversava comigo, decerto condoído daquela estranha, abandonada à própria sorte. Ao final, num gesto de solidariedade, foi buscar o meu livro e pediu o autógrafo.

Bem, o editor tinha razão. Mas foi muito boa a experiência, apreciei vivê-la. É parecida com a sensação de estar numa festa em que não se conhece ninguém; alguém disposto a se divertir com a situação pode aprender muito, nessas circunstâncias. Como tenho aprendido, nas Feiras do Livro de que já participei. Poucos escritores conseguem ser generosos e estender a mão aos principiantes, da mesma forma que o sucesso causa singular reação; também é raro alguém ensinar os passos de cada jornada (as editoras confiáveis, as boas distribuidores, a midia receptiva). Estamos sozinhos para descobrir os macetes e encontrar os atalhos.Por isso, são bem-vindas todas as oportunidades de aprendizagem.

Poucos ou muitos autógrafos distribuídos nada dizem do valor de um livro. Há outros fatores, como propaganda bem direcionada, prestigio pessoal, status social ou politico que nada tem a ver com o merecimento do autor.


Neste ano, embora a Feira do Livro de Porto Alegre tenha sido prejudicada pelas obras na Praça da Alfândega, a sessão de autógrafos estava mais simpática. Sobre o palco costumeiro,menos escritores autografavam, cada um com a sua mesa e amplo espaço para a confraternização dos amigos e familiares. Circulei pela Feira, já mais familiarizada, saboreando o ambiente. Observei que muitos escritores distribuíam escassos autógrafos. Admirei a coragem de quem vai à luta, peito aberto, e as estratégias utilizadas por quem já conhece os caminhos. Percebi que a verdadeira sabedoria não vem impressa.

Em tempo: as fotos são de 2010. Infelizmente, do ano a que me referi, anteriormente,não ficaram fotos (teria sido interessante). Ficou a lembrança da gentileza do Dr Luchese e o carinho dos fiéis acompanhantes.

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