28 de mar. de 2011

Mauá, uma história imperdível


Em crônica anterior, contei que estava lendo 1808, o livro de Laurentino Gomes. Pois, ao terminar a leitura, em vez de iniciar a continuação, 1822, tive ímpetos de reler Mauá, de Jorge Caldeira, lido em 1997. Naquela ocasião, a leitura me impressionou bastante. Agora, pareceu-me a continuação perfeita. Assim, Laurentino Gomes que me perdoe, mas 1822 foi passado para trás pelo “empresário do império”.

     Pelo pouco que assimilei da História como me foi passada, em sala de aula, fico imaginando porque os professores não se preocuparam em transmitir de forma mais interessante os seus conhecimentos. Lembro que havia grande preocupação em decorar datas, sem relacionar os  fatos. Muito diferente da forma utilizada por esses dois autores, concatenando os eventos, de forma a tornar compreensível a época em que se passaram. Sem isso, muitas vezes, quando nos arvoramos em juízes de situações hoje inadmissíveis, mas aceitas com naturalidade em tempos passados, apenas demonstramos desconhecimento de como era a vida naquela época, com as suas dificuldades e ignorância.

     Como a história de Irineu Evangelista de Sousa, o menino, órfão de pai, que saiu da vila de Arroio Grande aos oito anos, levado pelo tio ao Rio de Janeiro, onde começou como caixeiro, aos nove anos, no armazém de um conhecido do tio. Naquela época (muito antes da proibição do trabalho infantil), pela conturbação existente na Europa, era comum meninos dessa idade chegarem de Portugal, sozinhos, embarcados em navios, para procurar trabalho em casas de comércio de desconhecidos. Sendo assim, segundo o autor, Irineu até teve sorte, por contar com a recomendação do tio. Teve sorte, também, pela clarividência da mãe, mulher do campo, que preferiu ensinar o menino a ler, escrever e fazer contas, em vez de ensinar-lhe as lides campeiras, como seria natural, no Rio Grande do Sul de 1820.

     Excelente financista, observador e idealista, logo Irineu se destacou e galgou posições, até se tornar barão, visconde e ser reconhecido como o empresário do império. Novamente, não vou contar toda a história, que merece ser lida muitas vezes, tantas lições pode ensinar, inclusive do que não se deve fazer, em certas situações.  Mas o que impressiona, ainda hoje, além do seu pioneirismo, (primeiro industrial brasileiro, dono de bancos, construtor de estradas de ferro, estaleiro e companhias de navegação) é saber que, já naquela época, sendo o empreendedor que era, ao invés de contar com o apoio imperial às idéias pioneiras, visando o bem comum, tinha contra si a inveja e as constantes puxadas de tapete, tentando que não se destacasse entre os medíocres, aduladores do imperador Dom Pedro II. Filme que se repete, tantas vezes.


    Mas, sendo exemplo de empreendedorismo e determinação, prejudicado apenas pela ingenuidade de não compreender que o sucesso faz mal a quem não tem capacidade de alcançá-lo, Mauá merecia mais destaque na história do Brasil, contada nas escolas. Precisou o jornalista Jorge Caldeira se apaixonar pela sua obra e a sua personalidade para o Brasil de todos nós, não somente o dos intelectuais e estudiosos, tomar conhecimento da sua existência. É bom saber que aqui pertinho, no vizinho Arroio Grande _ que agora o homenageia com uma locomotiva, à entrada da cidade _ nasceu e se forjou o caráter íntegro do homem que desafiou os poderosos de então, para provar o valor do trabalho, no pioneirismo de suas idéias, até hoje respeitadas.

martafscosta@gmail.com

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