Certo dia, na escola onde eu estudava, a professora teve a idéia de iniciar uma série de palestras, que seriam proferidas pelas mães das alunas, as nossas mães. Fui pega de surpresa pelas colegas, quando convidaram justamente a minha mãe para a primeira palestra. A surpresa aumentou quando, prontamente, ela aceitou.
Apesar de admirá-la muito e apreciar as histórias da sua infância e juventude, fiquei receosa sobre o que ela teria de interessante para contar às minhas colegas, sendo uma “simples” dona de casa, mãe de sete filhos. Principalmente por, conhecendo a turma, saber que se poriam a rir com a maior facilidade, mal a primeira começasse, naquele jeito de ser das adolescentes de então.
Assim, temerosa, preparei-me para a situação, sem conseguir arrancar de mamãe nenhuma dica sobre o que pretendia falar, nem vê-la treinando ou preocupada com o evento. Era como se palestrar para um grupo de adolescentes fosse coisa banal, em seu currículo. “Mal sabe o que a espera”_ pensava, sem querer assustá-la.
O tema escolhido em aula foi “decoração”. No dia combinado, mamãe chegou, pontualmente. Recebida com carinho, por parte das colegas e da professora, começou a explanação, no seu jeito descontraído. O grupo era heterogêneo, talvez por isso mamãe enfatizou que, para uma casa ficar gostosa e agradável, mais valia o carinho e o bom gosto em reunir o que se tem do que a preocupação em adquirir coisas caras, modismos que logo enjoam. Foi a primeira vez em que ouvi a explicação de que o importante, em decoração como em tudo na vida, é fazê-lo “de coração”.
Havia sinceridade em suas palavras, pois as colegas conheciam a nossa casa, convidadas anualmente para a comemoração do meu aniversário, quando a surpreendida era mamãe, desavisada de que aquela turma toda chegaria após a aula e ficaria para o jantar.
Surpreendentemente, o público adolescente ficou quietinho, mudo, rostos amigáveis e olhares atentos; muitas palmas, ao final. Até eu recebi elogios pela mãe que tinha. Imerecidos, aliás. Depois, não sei se as palestras tiveram continuação, pois só guardei a que me serviu de lição.
Muitos anos passados, vivi várias vezes situações semelhantes, quando os filhos, também adolescentes, solicitavam para serem deixados na quadra anterior à festa ou ao bar a que desejavam comparecer. Ou quando, junto com os amigos, se mostravam frios, distantes, desejosos de serem deixados logo a sós, após alguma interrupção para receberem lanche ou guloseimas, esses bem recebidos. Como essas, outras situações me fizeram sorrir, lembrando a minha própria adolescência, quando a aceitação do grupo parecia o mais importante.
Assim, com o tempo, conforme a vida foi mostrando as várias faces, cresceu o entendimento sobre a arte de ser mãe, aquela que ama, brinca, educa, corrige e abraça. Aquela que entende, principalmente; aceita cada filho ou filha do jeito que é, fazendo somente as cobranças indispensáveis ao crescimento, para que se tornem pessoas felizes, integradas, agradáveis ao convívio.
Porque isso as mães, em todos os tempos, precisam ter de sobra: paciência e compreensão para esperar que as várias fases do crescimento sejam superadas. Com a certeza de que serão plenamente compreendidas, admiradas e valorizadas, quando o amadurecimento chegar. Até lá, paciência, compreensão e amor em doses infinitas.
2 comentários:
Tudo que é feito com amor,possui correspondência significativa. Feliz de quem consegue colocar amor em tudo o que faz!
Beijos
Em minha relação muito aberta com minha filha adolescente, ouço: "mãe, tu não vais acreditar! Tu sabes que as minhas amigas te acham muito simpática?" Fiquei de boca bem aberta imaginando o que ela acharia que suas amigas pensavam de mim antes de receber esta boa notícia! Realmente há que ser paciente, mas, mais que isto, ser atento e observador para não perder esta fase deles que, apesar de "chata", é feita de uma explosão de sentimentos e hormônios peculiar à juventude! Bjs, RMS.
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