16 de jul. de 2011

Por que logo comigo?

A mulher disse que se sentiu injustiçada, ao ser detectada uma metástase, quando acreditava ter vencido o câncer. “Por que logo comigo?” _ perguntou. Achei graça: “e por que não?” Aí rimos juntas, porque muito dessa não aceitação vem do fato de a gente achar que não merece. Além disso, a descoberta da existência de uma metástase não significa uma sentença de morte, como alguns tendem a considerá-la. Significa apenas que a luta continua _ aceitou a amiga, já em paz com a vida.

Por que logo comigo? Bem, o câncer é uma doença democrática e pode atacar a qualquer um. Quando escolhe a gente, é porque era pra ser; não é a mão divina nos castigando, nem porque tivemos maus pensamentos, comemos carne demais ou tomamos leite de menos. Algumas dessas coisas até podem influenciar, mas milhões de pessoas fizeram o mesmo e não ficaram doentes. Simplesmente o pacote era para nós, que afinal não somos diferentes de ninguém e bem podemos ter alguma coisinha, de vez em quando.

Mas, quando alguém é acometido de qualquer tipo de mal (como se descobrir diabético e ter que maneirar no açúcar), a forma escolhida para encarar a situação pode ser determinante na qualidade de vida, a partir desse momento. Algumas pessoas se tornam tão pesadas para os próximos, com a sua carga de infelicidade, que até parece que querem castigar pai, mãe ou marido por estarem sadios. Verdadeiras “malas” nas vidas dos outros.

Em qualquer doença, há mais vítimas além da pessoa diretamente atingida. Sofrem todos à volta, familiares e amigos, com os desdobramentos da doença e com os questionamentos sobre o futuro. Sofrem por expectativas assustadoras, muitas vezes não concretizadas. Com o avanço da medicina, pessoas passam anos se tratando contra algum mal e morrem de outro, quem sabe depois de quem tanto se preocupou com o aparecimento da sua doença.

Cada pessoa possui a sua carga de problemas, algumas bem mais terríveis que uma doença detectada e em tratamento. São dificuldades financeiras e de relacionamentos, famílias inteiras atingidas por um pai ou filho submisso ao álcool ou às drogas, dores físicas ou da alma, momentos de desânimo e depressão, que sobrecarregam os dias. O nosso problema sempre parece maior que o do vizinho. Seja uma unha inflamada e latejante ou o diagnóstico de uma doença grave, tudo o que acontece conosco exige uma série de resoluções e tomadas de atitude, daí a razão de coisas às vezes mínimas assumirem importância enorme, pela circunstância de mobilizarem o nosso tempo e atenção. Só que o outro também tem incômodos, problemas e aflições. Será que merece?

Sendo assim, nada mais justo que, dentro do possível, cada um assuma a sua carga. Sem stress, sem se sentir vítima, apenas para não sobrecarregar os próximos, já assoberbados com os seus próprios problemas, a maioria desconhecida dos outros.
Para levar a vida de um modo mais feliz, procuramos a fórmula milagrosa. Mas receitas de bom senso alguns experimentam, até com sucesso. Uma delas _ bem simples, aliás _ é olhar pros lados pra ver a multidão que segue em frente, corajosamente, apesar dos pesares e de todos os males. Só pra comprovar, mais uma vez, que cada um possui sua carga. E todas ficam mais leves, quando ninguém se sente vítima.

Um comentário:

Ruthe Nudilemom Peters disse...

Num primeiro momento sinto que peguntaria porque eu, mas pensando mais um pouco,assumiria de que, o que é meu é meu, com a ajuda de Deus!

Beijos