7 de out. de 2011

Mania de conflito

Em Reportagem Especial, no domingo 28 de agosto, o jornal Zero Hora, RS, chamou a atenção para uma característica gaúcha que acabou se transformando em entrave para o desenvolvimento. A reportagem questionava se o passado de revoluções seria o responsável pela tendência do gaúcho ao conflito, como método para resolver as diferenças (modernamente, a negociação é considerada mais promissora, por criar parceiros, em lugar de vencedores e perdedores).

“Tentativas de reforma e modernização”, nas palavras do repórter Itamar Melo, são travadas pela “incapacidade de criar consenso em torno de projetos fundamentais”. Como exemplo, ele cita reformas necessárias, barradas por determinados sindicatos, e “casos prosaicos”, criados por diferentes ativistas. Quem não conhece alguns?

Na política, agora segundo a cientista política Maria Isabel Noll, “projetos com pontos positivos e negativos são rejeitados como um todo, porque não há negociação”, diferente do que ocorre em outros Estados, onde “situação e oposição se unem em defesa de pontos fundamentais”. No Rio Grande, o “imobilismo” é incentivado pela força das corporações e grupos de interesse, que se unem para impedir quaisquer mudanças. Sem que as mudanças propostas encontrem aceitação, no Estado, nos municípios, nas instituições, tudo fica travado.

A cada nova idéia, mil vozes se erguem, gritando “Sou contra”, na maioria das vezes sem sequer saber bem do que se trata. Pelo costume de contrariar, algumas vezes; pelo despeito de não ser o dono da idéia, em outras _ e aqui a opinião já é pessoal. Mas o pior é que o projeto promissor esmorece, volta pra baixo da pilha, em lugar de sofrer as alterações necessárias e se transformar em realidade, para beneficiar a quem de direito.

É mais cômodo ser contra qualquer novidade. Imagine como ficam os outros, quando a idéia de alguém ameaça dar certo. Por isso os grupos se fecham, rejeitando as razões daqueles tidos como oposição. E quando alguém consegue romper o círculo, bracejando para alcançar outra margem, vozes e mãos tentam impedi-lo de avançar, colocando impedimentos e puxando-o para trás e para baixo _como fazem os caranguejos, mais preocupados em impedir o avanço dos outros que em providenciar a sua própria salvação.

A reportagem, fruto de pesquisa, apresentando inúmeros exemplos que comprovam a sua veracidade, coloca o dedo na ferida do comportamento gaúcho, fazendo-a sangrar. Considerando que “roupa suja se lava em casa”, talvez fosse mais inteligente não comentá-la. Acontece que, infelizmente, notícias diariamente divulgadas nos levam a recear que essa situação, exemplo da nossa mesquinha humanidade, se repita por esse Brasil afora, com raras exceções. E nesse caso é bom que cada um faça o seu exame de consciência.

Mas, voltando à negociação, ela só rende frutos quando são reconhecidos o poder e a força de ambos os negociadores. E aí entram as parcerias, as instituições apoiadoras. Sozinho, escorado apenas num bom discurso, ninguém faz valer as suas idéias, ainda que razoáveis.

O prazer da polêmica atrapalha a concretização dos projetos. Troque-se a polêmica pela negociação e a conseqüente realização, para ver no que dá. Acredite-se, até prova em contrário, que algo bom pode sair de outras cabeças. E, sempre que isso acontecer, que a nossa tenha a humildade e a luz necessária para apoiar e aplaudir.

Um comentário:

Ruthe disse...

Negociação! Somente negociaação em tudo! As probabilidades são altas de tudo dar certo!

Beijos