As notícias lidas e ouvidas, diariamente, são tão perturbadoras, que a vontade é ignorar esse mundo insano: nos jornais, só ler as tiras cômicas, as crônicas sociais e as páginas literárias; na TV, preferir o Mundo Animal, onde a perversidade gratuita raramente se manifesta. Contudo, ainda que fizéssemos isso, não estaríamos a salvo do mal.
No livro “Mentes Perigosas”, a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva alerta para o “psicopata que mora ao lado”, na forma de pessoas que, convivendo conosco, com aparência comum, sem sinais exteriores de anormalidade, são especialistas em causar o mal, sem a menor empatia com o sofrimento desencadeado por suas ações. Muitas delas, ainda que não se enquadrem naqueles casos passíveis de punição pela justiça humana, são capazes de destruir famílias, empresas e vidas, pela manipulação dos sentimentos e das situações.
Ela cita exemplos: o namorado que se faz de apaixonado, para dar o golpe e desaparecer, assim que põe a mão no dinheiro “emprestado”; a “amiga” que se instala no apartamento de outra, usufrui de tudo e ainda se dá ares de coitadinha, incapaz de conseguir emprego; o executivo que finge auxiliar o superior e termina ficando com o cargo dele, por meio de artimanhas; a funcionária que parece caída do céu, ao se candidatar ao emprego, preenchendo todos os requisitos, ao ponto de a patroa julgar desnecessárias as referencias; o homem que bate na mulher, pede perdão e bate novamente, alegando amor e ciúmes; os familiares, religiosos, professores e profissionais que se aproveitam da vulnerabilidade de crianças e jovens; os políticos desonestos e todos que ocupam cargos em instituições, com a intenção de se beneficiar. Quando essas situações se repetem, sem despertar o menor remorso, elas caracterizam pessoas “do mal”, incorrigíveis, tipos que precisamos aprender a reconhecer e evitar, para não ser a próxima vítima. Porque, quando a escritora fala que “eles moram ao lado”, ela quer dizer que podemos encontrá-los a qualquer momento, tê-los junto a nós, lançando sua teia, pelo fato de, sendo mentirosos, sem sentimentos, manipuladores, também serem encantadores, inteligentes e bom papo. Sem essas características, não atingiriam seus objetivos facilmente, como em geral acontece.
Temos dificuldade em reconhecer o mal no outro; procuramos desculpas para as atitudes que nos chocam ou desagradam. Qualquer pessoa pode errar uma e muitas vezes, mas gente “do bem” sabe quando agiu mal, reconhece o erro, procura saná-lo. Gente “do bem” não vive de se locupletar à custa dos outros, nem de difamá-los para tirar vantagem.
Pessoas “do mal”, alerta a psiquiatra, são como o escorpião da história, que, ao se encontrar a salvo do outro lado do rio, não resistiu e picou o sapo que lhe dera carona na travessia. “Por quê?” _ perguntou o sapo bonzinho, atônito, enquanto submergia. “Porque é da minha natureza”_ respondeu o escorpião, com a mesma naturalidade com que alguns se expõem, quando certos de que os outros não reagirão.
Estudos afirmam que cerca de 96% das pessoas são “razoavelmente decentes e capazes de bons sentimentos”. Sendo isso verdade, como podem os malfeitos da minoria de 4% prevalecerem nas manchetes diárias? Será que o grande espaço ocupado pelos pilantras, aproveitadores, ladrões e mentirosos contumazes não se deve ao comodismo dos outros, que cedem lugar, preferindo se encolher que tomar atitudes de enfrentamento, ao perceber o descaramento e a falta de escrúpulos?
Um comentário:
Acredito que todo cuidado é pouco com nossos relacionamentos, para não levarmos sustos inesperados.Como a camuflagem é muitas vezes, muito bem feita, nos pega de surpresa. Que Deus nos ajude a separar "o joio do trigo!"
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