20 de abr. de 2012

A bordo, a surpresa


Em crônica anterior, contei um pouco sobre o cruzeiro realizado, em março de 2012, no transatlântico Allure of the Seas. Pois, na primeira manhã a bordo, precisando de intérprete para o que explicava a garçonete americana, em inglês rápido demais para os escassos conhecimentos, veio em nosso auxílio uma moça brasileira, bonita e simpática, que se apresentou como Aida. Foi enorme a surpresa quando, em resposta à nossa pergunta, ela informou ser de Pelotas, como nós, e trabalhar no Allure desde a inauguração, no final de 2010.



Aida contou que sua atividade era no restaurante e sugeriu que a procurássemos pelo nome, se desejássemos mudar para o seu setor de atendimento, o que só conseguimos numa noite, por já estar determinado que a nossa mesa pertencia à área de outro garçom, também muito atencioso e simpático.

Mas, diante da nossa curiosidade em saber como chegou ao Allure, Aida contou que nasceu num bairro da periferia de Pelotas, próximo ao Canal São Gonçalo. Menina simples, nunca imaginou que um dia iria trabalhar num transatlântico, nos Estados Unidos. Referindo-me à localização de sua casa, perguntei se alguma vez entrou no Clube Veleiros, onde o pessoal adepto das velas mantém seus lindos barcos. Ela sorriu e respondeu que só passava em frente. Acrescentou, depois, com ar gaiato: “...tocando as vacas e os cavalos de volta para casa, pois passavam o dia pastando naquela área”.

Diante do nosso interesse, Aida contou um pouco de si, dizendo ter cursado o primeiro grau na Escola Coronel Pedro Osorio. Certo dia, concluiu que, em sua terra natal, não teria oportunidade de progredir, por isso criou coragem, deixou a família e foi para Caxias, onde começou como telefonista numa empresa de grande porte, completou o segundo grau e acabou como secretária da chefia.

Apesar do apoio dos empregadores, em determinado momento ela compreendeu que queria mais, não sabia o quê: demitiu-se do emprego e voltou para Pelotas e o aconchego da família. Após algum tempo, novamente a sensação de que precisava buscar algo mais. Nesse momento, caiu em suas mãos o formulário do Allure of the Seas, para contrato da tripulação inicial. Disposta a enfrentar o que viesse, Aida se inscreveu, sem dar muitos detalhes da sua formação, por desconfiar da autenticidade da proposta. Em 20 dias, foi chamada para a entrevista, em São Paulo, e logo encaminhada para o navio. Aida conta que tinha algum conhecimento do idioma americano, mas foi no Allure que ficou fluente.

Ao embarcar, o oficial que a recebeu perguntou sobre a sua experiência em outros navios e, ao ouvir que era a sua primeira vez no mar, surpreendeu-se: “E começa logo no maior navio do mundo?”



Essa é Aida Saraiva Loth, exemplo de coragem, determinação e simplicidade. Conto o pouco que sei da sua história como incentivo para os milhares de meninas e meninos que, nascendo num ambiente modesto, precisam saber que é possível vencer barreiras. Mas isso só acontece quando alguém aceita a responsabilidade pelo seu destino, por compreender que, no jogo da vida, as oportunidades surgem para muitos, mas ficam com os mais valentes e com os que sabem valorizá-las.



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