25 de mai. de 2012

Altos e baixos


Lembra as inúmeras ocasiões em você brilhou? Quando foi o primeiro escalado para o time de futebol, por ser considerado o melhor atacante, pelos seus colegas? Ou quando a professora leu a sua redação, em voz alta, e os colegas lançaram olhares cheios de admiração? Quando despertou a inveja das amigas, escolhida para dançar pelo galã da turma? Quando passou no Vestibular, em primeira mão? Quando se destacou, na vida profissional? Quando apresentou um projeto inusitado e choveram confetes? Quando o filho repetiu o seu sucesso e alguém falou “o fruto não cai longe da árvore”?

Tantas vezes, na vida, você se sentiu poderoso, dono do mundo, peito estufado de orgulho, quase imortal. Quantas? Impossível saber, mas desejo que inúmeras.

E em quantas ocasiões se sentiu pequeno, diminuído, carente de atenção, desprestigiado, barquinho de papel levado pela correnteza? Lembra a força pra não chorar, quando outra menina subiu ao palco, pra dizer a poesia que você queria apresentar? Ou quando descobriu que os colegas faziam festas para as quais você jamais era convidado? Quando percebeu que seus pais, até então seus ídolos, não possuíam o prestigio social que você imaginava? Quando contaram anedotas que não entendeu e por isso foi ridicularizado? Quando todos os amigos foram pares de debutantes e você não recebeu nenhum convite? Quando a menina loira riu do soneto que escreveu para ela? Quando não passou no primeiro vestibular, nem no segundo, ao contrário do primo, primeiro lugar em Medicina? Quando percebeu que a sua atuação profissional era medíocre, comparada com o sucesso daquele amigo? Quando o filho voltou da casa do vizinho, só falando na TV de plasma de 50 polegadas, e você olhou para a sua, que ainda parecia tão boa?

Tantas ocasiões de desamparo diante de circunstâncias que não tinha o poder de modificar. Até que algo ocorreu e você se sentiu forte, novamente, esquecido das horas amargas, cheio de pique, antes de lhe puxarem o tapete e se estatelar no chão, mais uma vez.

Nada disso aconteceu com você? Bem, sem bola de cristal, seria impossível acertar nos exemplos, mas sei que me entendeu. Como eu, você teve momentos de glória e de abandono, alguns de estufar o peito, cheia de orgulho, outros de se enrolar na echarpe, pra não ser reconhecida.

Mas, nesses altos e baixos da vida, a gente aprende a marchar no próprio passo e uma coisa boa acontece: a sabedoria de aceitar as circunstâncias e encará-las com bom-humor, ao invés de se bater contra elas, que isso só machuca os nós dos dedos. E o melhor: a humildade para usufruir os momentos de glória, sem levar muito a sério os confetes e elogios, que logo serão direcionados a outro. E a serenidade para entender que, esteja no alto ou lá embaixo, você continua o mesmo, uma pessoa especial, maravilhosa, valorizada por quem merece o seu respeito e tem o seu carinho.

Mas e os outros? Ah, os outros! Ponha no mesmo pacote todos os que o sacanearam, ao longo da vida (inclusive aqueles disfarçados, tapinhas nas costas e risinhos por trás) e puxe a descarga, só pra ouvir o barulho gostoso. E depois aproveite o sentimento de leveza e saia por aí, pra curtir a vida.

Um comentário:

Luiz Carlos Amorim disse...

É verdade Marta. Você tem toda razão. Que bom recebê-la nomeu blog, seja sempre bem vinda. Um grande abraço do Amorim