Busco na memória lembranças da mãe que partiu há tanto tempo, na intenção de homenagear outras mães, nesse dia especial. Descubro que mãe é ser que não se perde, ainda que morra ou se vá, por qualquer razão. Mãe segue conosco, pela vida a fora, presença que se sente ao lado, nos momentos de aperto. Carinho a que se recorre, quando carente. Orgulho ou alegria que se imagina, quando as coisas correm bem pro nosso lado.
Há mães de todo tipo e feitio. Mães lindas, vaidosas, inteligentes, profissionais de sucesso; mães feias, desinteressantes, problemáticas, culpando os filhos pelas frustrações acumuladas. Por serem humanas, sujeitas a crises e traumas, mães desenvolvem comportamentos diferentes. Por isso não é válido considerar que mãe é isso ou aquilo _ exemplo de pureza e doçura, amor isento de egoísmo, coração e casa sempre abertos _ nem cobrar de todos os filhos a mesma dedicação e carinho. Alguns só conseguem manter o relacionamento a certa distância e estão em seu direito.
Parece estranho, talvez, reconhecer esse tipo de situação, num dia em que a disposição é para enaltecer todas as mães, como modelos de dedicação e altruísmo.
Feliz de quem teve a sorte de ter mãe amorosa, firme, pronta tanto para proporcionar carinho como para chamar a atenção, quando preciso, como eu tive. Mas nem todos têm essa sorte, o que justifica a falta de entusiasmo de alguns para homenagear quem nunca os fez se sentirem especiais.
“Mãe é mãe”, dizemos, brincando, quando alguma se transforma em leoa e defende o rebento, com unhas e dentes afiados. A maternidade desperta esse sentimento, na maioria das mulheres. O assunto corre muito bem, enquanto o filho não é atacado. Saiam da frente, se ela pressentir animosidade contra ele, o bebê que acalentou e do qual conhece as forças e fraquezas.
Por isso é impossível imaginar a dor das mães que, vencidas na luta contra as drogas e o crime, fecham a porta ao filho que, mais uma vez, vem extorqui-las ou fazê-las cúmplices. Dor maior não há que negar o amor que extravasa, desejando proteger quem se colocou além de qualquer proteção.
“Quem ama, educa”, sabemos. Ainda que o “não” doa mais a quem o pronuncia, ele é necessário, única forma de preparar para o convívio social e instigar a vontade de alcançar vitórias por si próprio. Quem se acostuma com tudo ao alcance das mãos acredita que basta pedir e conseguirá. A esses, mais adiante, o mundo ensinará lições amargas, que deveriam ter aprendido na infância.
Pois é esse o papel das mães, desde que os filhos nascem: proporcionar cuidados, com amor e carinho, e ensinar a aceitação dos limites que serão necessários, em todas as fases da vida; ajudar na aprendizagem dos primeiros passos, torcendo para que depois se tornem independentes. A cada partida, rezar para que não se percam por becos escuros e saibam encontrar o caminho de volta. Que a porta que se abre, a cada chegada, seja sempre motivo de alegria. E mais não precisam as mães, em qualquer dia.
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