8 de jul. de 2012

Solidariedade, idoneidade e garra


Entre as várias comemorações para festejar os 27 anos da Casa de Santo Antônio do Menor, situada em Pelotas, RS, participei de um almoço com a diretoria e voluntárias, no refeitório onde as crianças, diariamente, fazem suas cinco refeições, temperadas de carinho. Natural lembrar, no ambiente equipado com capricho, embora modesto _ salas ampliadas e restauradas, prateleiras com brinquedos recebidos de crianças mais favorecidas a quem é ensinada a solidariedade, cozinha e banheiros impecáveis _ o início desta Casa, tempos difíceis em que faltava tudo, mas sobrava fé.

E foi a fé, dirigida principalmente ao padroeiro, Santo Antônio, que segurou a barra, nas inúmeras vezes em que o amanhã aterrorizou. Alguém externava medo, ao olhar o extrato bancário, capaz de arcar somente com os compromissos financeiros do mês em vigor, aí surgia a ideia de uma promoção para angariar fundos, outra oferecia o ambiente adequado, o mês seguinte estava resolvido. Ufa!

Muitas vezes, sorri, incrédula, ao ouvir “Santo Antônio dará um jeito”. Verdade que, não raro, o santo era posto de castigo, virado para a parede, ou obrigado a ouvir reclamações indignadas, sem ser culpado das ideias arrojadas daquele grupo de pessoas, disposto a fazer do sonho realidade. Resolvido o problema, voltava Santo Antônio para o lugar de honra, entre exclamações de carinho. De tanto ouvir as histórias, fui obrigada a dar crédito ao santo e o pior é que também passei a fazer as minhas cobranças, com muito respeito: “Puxa, Santo Antônio, bem que o senhor podia...”

A Casa de Santo Antônio do Menor foi fundada por um grupo de paroquianos da Igreja da Luz, em 1985, com a finalidade de atender menores de rua, crianças e adolescentes que iam e vinham, sem regras, sedentos de atenção.

Em 1993, a diretoria compreendeu a necessidade de mudar seu público, transformando-se em creche para filhos de empregadas domésticas, faxineiras e outras categorias sem condições de pagar o atendimento aos filhos, enquanto desempenhavam suas funções. Ao optar pela faixa etária até 7 anos, a intenção foi prevenir em lugar de corrigir; proporcionar tais condições de boa acolhida, carinho e desenvolvimento saudável, que essas crianças encontrassem seu lugar na sociedade e jamais optassem pelas ruas.

Nesses anos de orçamento mais que apertado, vivendo mês a mês, diretoria e grupo de amigos garantiram a manutenção da Casa com promoções beneficentes, doações recebidas e mensalidades pagas pelos associados, sem nunca faltar aos compromissos assumidos. E breve a Casa de Santo Antônio começou a ter o seu trabalho reconhecido pela comunidade local, que se fez parceira, sem o que teria sido impossível a continuidade.

Graças ao apoio recebido, pôde se estruturar melhor, inclusive na área física, adequando-se às novas exigências da regulamentação infantil. Em 2009, na primeira gestão da presidente Rosa Maria Moreira, através de convênios firmados com a Secretaria Municipal de Educação, tornou-se Escola Infantil de Primeiro Grau.

Entidade não governamental, sem fins lucrativos, a Casa de Santo Antônio do Menor, localizada à rua da Luz, 12 A, pertence à comunidade e a todos que entendem a importância de proporcionar a crianças sem recursos financeiros educação e atividades pedagógicas similares às proporcionadas nas escolas particulares. Falam dessa preocupação os oito computadores doados pelo Banco do Brasil, em agosto de 2011, onde as crianças se familiarizam com a informática. Mas esse é apenas um exemplo. Em cada canto desta Casa, há o carinho de alguém.

Também em cada canto desse Brasil, pertinho de sua casa, talvez, outras entidades assistenciais se preocupam com crianças, velhos e portadores de necessidades especiais, procurando compensar o que a sorte lhes negou. Procure conhecer esse trabalho e faça parte dessa corrente por um Brasil onde garra e idoneidade são sinônimos de fazer acontecer.


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